terça-feira, 27 de setembro de 2011

Devoravam

- Beatriz, venha até aqui! - Disse-me ele enquanto seus olhos devoravam os meus.
Devoravam-me, mas de uma forma boa, e eu gostava. Levantei-me e sem questionar, o segui. Sentamo-nos embaixo de uma árvore, eu sabia o que estava prestar a acontecer, ele também. Não estava em meus planos evitar.
Ambos olhávamos para baixo, não estávamos preparados para encarar a espera do outro, mas sem que pudéssemos nos dar conta, passamos a nos olhar, olhos nos olhos, até que a respiração se encontrou. Não foi preciso dizer nada, o momento, tudo, falava por si só. Era como se, de uma vez por todas, o universo resolvê-se me ajudar, era como se todos os meus sentimentos pudessem ser descritos apenas com o olhar: o dele.
Suas mãos encontram as minhas e sua boca também, devoramo-nos, como seus olhos anteriormente haviam feito comigo.
Agora eu parecia uma telespectadora, era como se eu pudesse me transportar para aquela cena e a visualizar sob diversos ângulos, de diversas formas, evitando que ela caia no esquecimento, eu a revivia, a reformulada, a imaginava, até que me dei conta de que criara uma mentira, um monstro, um fantasma particular.
Você nunca voltou a me chamar e eu fazia o favor de ignorá-lo, era aquela coisa de levantar a cabeça ao passar por você, como se isso representasse um sinal de superioridade, tola que sou, só aumentava a dor, a vontade de você, enquanto você... ah, você tirava proveito disso e provocava-me. Já havia me superado e fazia questão de exibir isso.
O tempo passou e quando eu pensei esquecê-lo, o mesmo reapareceu:
- Ana, venha até aqui! - Seus olhos a devoravam.

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