sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A mulher da minha vida

Aqui estou eu. Deitado na cama, um turbilhão de pensamentos, nos meus ouvidos, sirenes, que barulho ensurdecedor!!, minha barriga dói, até parece que acabei de levar um soco. Levei? Não me recordo muito bem das coisas, talvez pela quantidade de álcool que ingeri no último bar. Talvez minha memória tenha feito questão de apagar...
Abro os olhos lentamente. Levei um soco, ou mais. O lençol está cheio de sangue, estou tonto, tento me lembrar. Adormeço.

De repente a porta abre, vejo minha mãe, meu pai, minha irmã. Todos parecem ter saído de um velório agora, que caras são essas? Escuto um milhão de xingamentos, sinto um chacoalhão, mas por que, diabos, esse povo está aqui? Levanto e vou embora.
Na rua, as vidas são alheias a minha, ninguém se importa, nem me olha. Ninguém quer saber o que eu fiz na noite passada, nem se incomoda comigo. Aqui, sou só mais um. Isso me agrada.
Entro em uma padaria, a atendente é gostosa.
- Me vê um café, lindeza.
Ela ignora o elogio e me traz um café. Nem me importo. Bebo de uma vez, jogo uma nota no balcão e saio dali.
Continuo a andar, observo o céu, azul, puta azul lindo, o céu nunca está feio, nunca! Mas tropeço, trombo em algo, caralho! o que é isso?, olho e lá está ela no chão, pobrezinha, linda e indefesa. Acabei de derrubar a mulher da minha vida, talvez. Olhos escuros, cabelos negros e a pele clara, ela me dá um sorriso torto, seu canino direito é tortinho, mas não me importo.
Me desculpe, imploro. Me desculpe. Ergo-a e como forma de desculpa, chamo-a para um café. Venha, eu insisto.
E tudo bem, ela aceita, aqui estamos nós dois conversando sobre tudo. Dá pra acreditar? Ela, com as maçãs vermelhas de vergonha, diz se eu não prefiro uma cerveja a um café... E mais, me indica um bar. Estamos nele agora.
Não sei quantas foram as garrafas, nem quantas risadas demos, só sei que ela está no meu apartamento e, pela primeira vez na vida, eu sinto vergonha da sua sujeira. Ela parece não se incomodar enquanto mexe nos meus discos e solta gritinhos. Não entendo por que uma mulher tão linda veio parar no apartamento de um sujeito sujo como eu, cheirando à cerveja e cigarro.
É a mulher da minha vida.

E aqui estou eu. Deitado na minha cama, um turbilhão de pensamentos, nos meus ouvidos, sirenes, que barulho ensurdecedor!! Acordo.

domingo, 19 de agosto de 2012

Rosa

De repente eu me senti tão feliz e tão leve que eu poderia flutuar, se a vida me permitisse. Senti-me parte do céu, senti-me nas nuvens, ou talvez nas estrelas, voando sem parar, voando em volta do mundo, de olhos fechados, com o cabelo bagunçado.
Com todos os meus livros no coração, com poemas nos olhos e sorrisos nos lábios. A vida cheirando a casa de vó, cheirando a pão assado, pão recheado. O vento cheirando a tempo, a sonho! O coração batendo no ritmo do samba. 
O pôr do sol de toda as cores.


De repente eu me senti tão feliz e tão leve que não há necessidade de palavras, meus olhos me dizem tudo, minha respiração e meus dentes explicam.
De repente o mundo ficou assim, de todas as cores.
No que seria a fase rosa de Van Gogh.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sobre você

Se alguém me perguntasse se eu gosto de você, a resposta seria óbvia, óbvio que sim, mas não sei como, nem por quê, nem que tanto. Gosto de você. Só gosto. E se me perguntassem se te amo, talvez hesitaria em responder, e com um sorriso amarelo no rosto e vergonha de admitir, diria que não sei, contudo se tivesse amado alguém, com certeza teria sido você.
Só me dou conta disso tudo, do quanto gosto de você, quando você me diz algo sem sentido, algo tão espontâneo que eu dou risada, sem saber o que responder. Quando eu vejo você falando com alguém sobre tudo ao mesmo tempo, sempre opinando e se colocando. Quando você me diz teus sonhos, teus projetos, tuas vontades, e eu, te achando incrível como acho, apoio. Apoio sem nem pensar!
Não tenho vontade de mudar nada em você, apesar de todas as críticas, gosto até dos teus defeitos. E, as vezes, até elogio outros, só que é com você que eu quero estar. Tanto que é com você que estou há tanto tempo.
Gosto de quando você desliga a tv e só fica em silêncio, gosto de quando você me chama de preguiçosa, ou quando me chama de "daizinha", ou ainda quando insiste em tentar ver um filme. Gosto do tanto de curiosidades que você esclareceu com o tempo e ensina-me.
Tão ruim querer dizer algo e não encontrar palavras. Sobre você é sempre assim. Escrevendo até consigo exprimir um pouco mais que falando e ainda sim é pouco.
Sobre você é sempre assim.
Acho que é porque palavras não definem tudo isso.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Frustração

Se eu morresse hoje, morreria insatisfeita. Insatisfeita com a vida que eu tive. Sentindo falta das oportunidades que não tiveram tempo de me aparecer, das pessoas que não conheci, das conversas e reflexões que eu não tive.
Vivi todo esse tempo cercada por pessoas medíocres, por pessoas ignorantes, e do pior tipo de ignorância, aquela que não quer aprender. Vivi com gente que não sabe parar e conversar sobre o porquê das coisas. Gente que não reflete, que não se pergunta. Gente conformada.
Ouvi muitos dos sonhos dessas pessoas, sonhos cheios de ostentação, carrão, casona, férias em Paris vestindo chanel e calçando louboutin. Não ouvi ninguém dos que me cercam falar sobre ajudar, sobre se doar, sobre querer só o que precisa. Ninguém me falou sobre preservar a natureza, sobre andar descalço ou ensinar os filhos a ler bons livros.
Querem máquinas, computadores, celulares e insistir nos erros. Querem não ver seus erros, e continuam a julgar o dos outros. Continuam a julgar o que para eles são meus erros, mas que, para mim, são apenas acontecimentos da minha vida.
Ninguém aqui pode me dizer o que é certo, porque ninguém aqui tem embasamento para isso. Ninguém aqui me conhece, ninguém aqui me ouve, ninguém aqui me entende.
Sinto-me frustrada com a vida.
Com essa eterna vida.
Com essa tristeza.
Acham lindo into the wild, mas nunca, em hipótese alguma, abririam mão do conforto da cama. Criticam todas as organizações que visam ajudar a comunidade. Não consigo sentir nada por vocês, nem pena.
E, apesar disso tudo, apesar de eu relatar todas essas minhas insatisfações com a vida, eu não os julgo pessoas horríveis, julgo-os cegos! Cegos!
Abram os olhos...

Enquanto vocês querem tanto, eu quero pouco, pouco material e muito para a minha alma. Quero me libertar. Quero transcender os limites da vida material. Quero o mundo ideal de Platão. Quero ser naturalista como Hemp. Que Deus, que Jah, que Alah, me ajudem! Deem-me sabedoria e paz. Paz para a minha alma. Aquietem meu coração.