domingo, 30 de outubro de 2011

David em 13 linhas

Acho engraçado como te conheci e como você é totalmente doido e diferente de todas as outras pessoas com as quais convivo. Você parece não se importar com nada, mas, ao mesmo tempo, importa-se, não come carne, não bebe, não fuma (ainda bem), não penteia o cabelo também.
Quando te conheci, você parecia um doido todo de preto e com um skate na mão, sentou-se e começou a falar tudo enrolado, parecia que nós nos conhecíamos há muito tempo, você me faz rir, sem esforço algum, e ri também, com sua risada extremamente escandalosa.
Por mais que nos encontremos pouco, eu gosto muito de você, mesmo você sendo um péssimo professor de sinuca, mesmo que eu sequer saiba sua idade, porque eu, sinceramente, não me importo. Importo-me muito mais com as suas histórias, com suas aventuras e suas palavras. Gosto muito mais do seu pseudo-português meio colombiano do que do meu, talvez seja por isso que nos damos tão bem, ainda bem.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tudo ficaria bem

Olhei para o seu perfil enigmático e fiquei imaginando como você veria toda aquela cena na qual nós dois estávamos inseridos. De longe éramos apenas espectadores, ansiosos por um clímax excitante, vi seu sorriso tímido escondido entre as curvas do seu nariz e queixo.
Será que você via tudo como eu via? Interpretava aquelas bobagens como eu fazia? Ou para você tudo parecia interessante? Você parecia alienar-se de tudo, sem importar-se. Batia sua bola de basquete e sorria, o mundo acabava atrás de você, e tudo o que te importava era a cesta, e ela, aparentemente, importava-se com você, ambos mantinham um belo relacionamento, seus arremessos sempre entravam nela.
De repente, aquilo para mim deixou de ser um jogo de basquete, eu queria analisar seus olhos e como eles se comportavam a cada movimento alheio, éramos eu e seus olhos, seus olhos envolvidos por pensamentos e eu querendo decifrá-los. Queria eu saber localizar-me bem na linha tênue que separam as minhas interpretações dos seus reais pensamentos. Ou talvez não. Seria frustrante saber que você não pensa o que eu acho que pensa, pergunto-me se te julgaria, deveria?
Não. Seus olhos, doces e cuidadosos olhos, incríveis com sua cor tão próxima a de um lápis de cor marrom, me diziam que não. Despreocupados, diziam-me para relaxar. Tudo daria certo. Você, a bola e a cesta. O mundo acabando-se lá atrás, e tudo ficaria bem.

sábado, 8 de outubro de 2011

Ocaso

Eu andava pela praia perguntando-me como iria embora, afinal, estava com míseras moedas no bolso, não tinha carro e era impossível conseguir uma carona ali, onde não ia ninguém. Salvo alguns maconheiros ou bêbados, e eu não me importava com eles.
Possuía duas opções: esperar um ônibus, ou ir a pé, optei pela primeira e fui procurar um lugar para sentar. O céu estava incrivelmente bonito, o ocaso iniciaria-se em poucos instantes, molhei meus pés na água e me sentei, olhando para aquela imensidão azul que me cercava. Eu poderia ficar ali para sempre.
Estiquei meu corpo e deitei-me de modo a poder olhar o pôr do sol, por alguns instantes fechei meus olhos, inspirei e prendi a respiração. Finalmente me sentia livre, e só.
Não sei as outras pessoas, mas comecei a reparar em como eu era, e, caramba, eu era estranha mesmo! Nunca soube escolher entre as coisas, talvez por isso não cheguei a lugar algum, eu pensava, pensava e nunca concluía, por isso era assim, errada. Era como aqueles versos de Chico, em que um anjo decretou que "eu estava predestinado a ser errado assim", eu concordava.
Nesse instante, olhando o céu, sozinha, cercada por água, eu parecia não saber quem eu era, por uns quinze segundos eu me perguntei, então a resposta veio: eu não era ninguém. Eu era só mais uma que ansiava pelas palavras, que se alimentava delas, entretanto não as possuía. Eu as buscava, mas não as conquistava.
Um sorriso se desenhou em meus lábios, sem motivos, sentia-me estranha, e feliz, estranhamente feliz. Desejei ser hippie e viajar de carona, conhecer o íntimo de desconhecidos, explorar suas dores e vivê-las, esquecendo-me das minhas. Por um instante pensei em abandonar tudo, e, quando dei-me conta, o ocaso já se acabara. Fora tão lindo quanto eu era estranha, ambos na mesma intensidade, todas aquelas cores se misturaram e se foram. Imaginei que ele seria um sinal, minha vida estava passando e minhas cores se enfraqueciam a cada fim de tarde, decidira-me: iria atrás dos meus sonhos. Viajar pela costa oeste, por que não? Isolar-me em um ashram na Índia, por que não?
Levantei-me decidida a viver, o ônibus chegara, e, pela primeira vez, entrei nele com prazer, sorri, dei boa tarde, me aventurei. Fora a primeira de muita vezes que o fiz.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Com ou sem o seu perdão

Eu lhe machuco, e ela me machuca. Talvez seja por nos amarmos tanto. Talvez seja por sermos tão iguais. Talvez seja essa enorme convivência. Talvez seja pelo estresse do dia-a-dia. Mas nos machucamos. Nos odiamos e esperando o perdão da outra sem pedi-lo. Pedimos com os olhos, entretanto nosso orgulho não nos permite verbalizá-lo.
Destruímo-nos, eu sei. Não conseguimos nos colocar no lugar da outra, não entendemos uma a outra. Mas nos amamos.
Meu modo de fugir da dor de suas palavras é escrevendo, o seu é ignorando-me. Partilho do sofrimento dos seus olhos, mas sinto-me incapaz de digerir suas palavras, são dolorosas, fortes, afiadas como facas. Machucam-me. Não sei se meu papel no mundo é te amar e te perdoar, mas queria que o seu assim fosse comigo, pois sou pequena, muito pequena, erro muito e sempre, diariamente, machuco-lhe, eu sei. Queria que não o fizesse, mas faço-o. Perdoe-me.
Você nunca lerá essas palavras, você não as apoia, você apenas apoia minhas dissertações, apenas lhe agrada minha vida futura. Você não consegue enxergar que meu coração é cosmopolita, você não vê que quero mais que isso... Não vê que quero libertar-me.
Por querer você feliz, abro mão disso tudo, depois de errar, abaixo minha cabeça, sem pedir perdão, sou tola. Mas imploro-lhe em meu silêncio que tenha compaixão da minha consciência e de meus erros. De nada adianta eu insistir nessas palavras cheias de sentimentos a mim, e vazias a você. Deixo disso agora, e volto-me para a gramática, aquela que amanhã irá me testar, com ou sem o seu perdão.