terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Estrelas e Cigarros

"Mas eu nunca quis ter nada com você!"
Essa é uma coincidência, uma coincidência desconhecida para você. Quando nos conhecemos eu nunca quis nada com você, nunca entendi suas indiretas, nunca fiz questão da sua presença. Não se sinta lisonjeado, meu querido, quando te beijei pela primeira vez, a única coisa que passava pela minha cabeça era o número que você assumiria na minha lista, só. Você não tem noção da quantidade de textos mentais que eu escrevi com o nosso término, não é? Aposto que não. Você não esperava isso de mim, eu não esperava, era cômodo estar ao seu lado e posso até dizer que gostava, mas nunca, nunca quis nada sério com você.
Parece que minha cabeça é tomada pela cena em que você me disse essas palavras, sou incapaz de acreditar nelas. Sou uma menina tão legal, por que é que você me trocou por essa vagabunda que sequer sabe escrever "exceção"? Não quero sua piedade, não quero te ver nunca mais. Da onde você tirou tanta coragem para me olhar nos olhos e dizer que beijou outra? Depois de tanto tempo, de tantas horas perdidas com você!
Coloquei aquela música que você me indicou quando eu nem sabia ao certo quem você era, ela está salva em meus favoritos, escuto ela de novo, e procuro nas minhas divisões onde foi que eu salvei as outras. Penso em ouvir um dos seus covers, mas hesito. Hesito.
Você faz tão pouco caso comigo, trata-me tão mal, ignora-me e eu continuo, eu finjo, finjo, que finjo que não me importo, mas importo-me. Sabe aquela mensagem que você não me mandou? Eu esperei. Aquela ligação que supostamente caiu? Esperei o retorno. E você não o fez.
Pergunto-me quantas vezes você olhou seu celular e me ignorou. E eu aqui, perdida, cada despedida parecia eterna, por isso eu fazia birra, por isso eu não queria, hesitava tanto em falar "adeus". Como você podia me deixar assim? Será que você não tinha noção do mal que me fazia? E agora isso... um final. Depois de tanto tempo: um final.
Ao menos não tenho um status perante a sociedade para mudar, difícil vai ser superar conhecidos me perguntando sobre você. Difícil será não te xingar, cafajeste!  Sinto vontade de sentar numa mesinha de um bar qualquer, de beber, ouvir a voz rouca de um cara qualquer cantando, com uma cerveja barata no copo e um cigarro nojento na boca. Você odiava quando eu fumava, eu odiava fumar, contudo o fazia.
Será que as estrelas sentem o quanto você me machuca? O céu está tão estrelado, tão bonito, tão nosso... E eu aqui, escrevendo palavras incertas, mais um de meus textos mentais, mais nada. E você não lerá, não dessa vez, nós não gozaremos do prazer de ler a literatura do outro, de escrever a literatura do outro enquanto nossos corpos se amam. Será que esse céu que já nos viu deleitarmo-nos em amor é capaz de me compreender?
Tanto faz. Qualquer um o faria, exceto você. Você que não é qualquer um, você que tem um violão e um cabelo bagunçado. Você que usa chinelos nos pés. Achei que me tinha no coração. Trago esse cigarro nojento mais uma vez e só desejo que você se torne fumaça, torne-se nada e suma.
Não seja meu cigarro que deixa marcas nos meus pulmões, seja minha fumaça que com o vento se vai e não, não volta jamais.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Penso

Eu não deveria pensar esse tipo de coisa, mas penso. Penso demais até. Não quero escrever aqui com "todas as palavras" porque ninguém é capaz de entender, ninguém acompanhou meus pensamentos, minha linha de raciocínio, o desenvolvimento de ideias. Ideias ruins.
Parece que eu me abandonei, entreguei-me as palavras achando que elas poderiam me curar, quando não, não, não, as palavras apenas me ferem mais, apenas abrem mais as minhas cicatrizes que eu tentava esconder com pensamentos. Contudo a dor sempre vem.
E ela veio.
Sinto-me só, embora não esteja (não estou?). Acredito que dessa vez nem as palavras podem me ajudar a me enganar, estou fraca, vulnerável. A todo momento, eu penso em procurar velhos amigos, mas nossa amizade acabou. De que valeria? Não sei por que escrevo, uma vez que não me explico, não me permito dizer, finjo.
Fico me indagando quais são as palavras certas para se usar, a minha hora nunca chega, e o "tudo no seu tempo" não me é válido. Será que eu mudei? Ou sempre fui assim?
As respostas nunca chegam, Bob Dylan se enganou quando disse que estas estavam "soprando ao vento", não as minhas, as minhas não estão. Minhas respostas devem estar trancadas em um baú e escondidas em uma ilha desabitada, talvez o meu cérebro não seja forasteiro o suficiente para desbravar todos esses mistérios e encontrá-las.
Talvez, talvez, talvez. Talvez o tempo só tenha que passar, talvez ele seja, realmente, o melhor remédio. Ou talvez seja só tpm, talvez.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Zézinho

Senhor José,
Demorei muito pra te escrever, eu sei. Começo te pedindo desculpas por todas as mal criações que eu fiz enquanto você estava comigo. Lembra aquela vez que você me pediu água e eu disse que não era tua escrava? Perdoe-me. Se hoje eu pudesse, levaria-te todo um mar, um mar azul, como teus olhos. Azuis que transmitem toda a paz inexistente no mundo. Você é incrível, Vô.
Queria escrever aqui, nesta carta, um breve memorial, para que assim nós dois possamos trocar aprendizagens pelo o que passamos, juntos ou não. Lembra-se de todas as tuas viagens de caminhão? Das caronas que você dava? Daquela mulher que soltou um pum?? Lembrando até parece engraçado. Uma vez você me disse que queria voltar a trabalhar, que aposentar tinha te deixado assim. Pode até ser, mas você trabalhou enquanto pôde, meu anjo.
Sinto um extremo orgulho da beleza exótica que Deus te deu. Amo teus olhos tais como são, vesgos, contudo azuis. Lindos, como você. Você é o melhor homem do mundo, e mais sortudo. Teve oito lindos filhos e a esposa mais doce do mundo. Tenha certeza que hoje eu sinto muito orgulho de você.
Tenho certeza que você está no céu (tão azul como teus olhos), e daí você pode ver nosso sofrimento, nossa saudade, nossa dor, nosso amor. E é isso, eu te amo, e muito, muito mesmo. Eu te disse que voltaria na última vez que te vi, eu demorei, não é? Perdoe-me, queria ter chego a tempo de te abraçar, de te beijar as bochechas, de te dar meu coração, fígado, rim, pulmão, minha vida.
Escrevi mentalmente um monte de cartas, o senhor recebeu? Eu não entendo, sinceramente, não entendo. Entretanto entendo que o senhor é tão bondoso que Deus quis te levar com ele. Eu entendo Deus! No lugar dele, eu faria o mesmo.
Vou sentir saudades eternas de você e gostaria muito que o senhor me ajudasse, não me deixa, ajude-me nas minhas escolhas, tudo bem? Eu nunca vou esquecer do teu sorriso, do teu jeito de andar, da cadeira que você sentava na varanda, da cadeira da cozinha, da tua voz pedindo pra Vó fazer café, dos teus chinelos, da tua camisa azul, do teu óculos, do teu sorriso-piscada-mostrada de língua. Você se foi em uma hora ruim para mim, qualquer hora que você fosse seria ruim. Sequer sei tua idade (péssima neta, eu sei), mas sei que você viveu pouco, pouco demais! Vou te levar pra sempre, meu amor, minha vida, meu herói.
Você foi aquilo que a Delaine sempre disse que era: um "soldado da paz". Então, por favor, Vô, ai do céu, ajude Deus a espalhar a paz no mundo.
Obrigada por cada sorriso, por cada abraço.
Te amo muito,
Daiane (tua branca).