quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Milhas e milhas

Estou triste. Talvez não no sentido literal da palavra, não na intensidade exata. Talvez o correto seria chateada, tristinha. Dei-me conta que as pessoas se vão, não para sempre, mas por tempos, por três meses, seis, um ano, e fiquei chateada.
Vi que por algum tempo não precisarei mais mentir para encontrar alguém que não agrada minha família, porque esse alguém não vai estar aqui. Não vou mais ter uma ideia de sms engraçada e, mesmo que tenha, não vou ter para quem enviar. Não vou mais tirar fotos junto, rir junto, cozinhar junto.
Pensando nisso tudo, eu percebi que uma parte de mim está indo embora. Indo com os amigos que saem de férias da faculdade, indo com os amigos que vão para o intercâmbio, indo com quem vai fazer faculdade. Senti-me tão triste... Tão pequena diante da imensidão do mundo. Frágil, porque o tempo passa e, embora não apague o passado, ele muda o futuro.
Talvez seja a hora de ser sincera comigo mesma: minha tristeza deriva da futura partida de uma amiga. Sofro antecipadamente. 
Não vou ter mais macarrão com os restos da geladeira. Nem alguém para deitar comigo em uma sala rebaixada e olhar para o teto que está tão longe. Não vou mais criar filosofias e ter alguém para rir das minhas piadas sem graça. Não vou mais bater um papo a qualquer hora, porque fusos horários vão nos separar. A geografia não resolveu nos ajudar. Porque nem posso mais inventar qualquer coisa e te encontrar na sorveteria.
Vou sentir falta de uma das únicas pessoas que consegue me ouvir sem reclamar, que escuta minhas pirações e dá risada, sem me julgar. Vou sentir falta de um 'dá certo sim!!!', de alguém me reprimindo pelas bobeiras que eu falo na frente de alguém que você acha que vai me julgar. Vou sentir falta de uma das únicas pessoas que pensa diferente dentro dessa cidade tão vazia de filosofia.
Fiquei triste porque quem incentiva os meus sonhos vai embora. A pessoa com a qual eu me abro parcialmente vai embora. Entretanto um ano passa rápido... São só doze meses, trezentos e sessenta e cinco dias, algumas horas... Logo você está aqui de novo.
E, então, nós podemos marcar um sorvete escondido.

sábado, 17 de novembro de 2012

O que me mantinha firme nessa angustiante luta, que é acordar todos os dias e enfrentar um bando de idiotas, era a certeza de que em pouco tempo estaria sozinha, vivendo minhas próprias tristezas e estressando-me apenas comigo. Agora, sem essa certeza, pego-me trancada no quarto, sem coragem para chorar, segurando com um nó na garganta toda a chateação que eu não consigo libertar, desejando poder me refugiar em um consultório psiquiátrico com uma receita de tarja preta que promete me proteger da minha própria loucura.
As dores de cabeça cada vez mais constantes fazem-me sentir vontade de arrancar os próprios pulsos, enquanto, mentalmente, vejo sangue escorrendo para todo lado e a vida indo embora como grãos de areia na palma de minha mão. Não tenho mais aquele abraço apertado me esperando no sofá quando piso em casa, nem mesmo tenho o sofá.
Não tenho segurança alguma e ando recorrendo a dor física como distração da psicológica. Não sei o que sou, o que quero, o que fazer. Parece que estou em um quarto escuro, sem luz, sem barulho, com o pensamento na velocidade da luz.
E, todas as noites, acordo de um pesadelo, abraço meu edredom e alivio-me ao saber que acabou e que a realidade, por mais dura que seja, por alguns instantes não pode me atingir, porque estou sozinha, no meu canto, quentinha e protegida por um monte de tecido.
Viro para o outro lado da cama e aperto um botão qualquer do celular para que ele acenda e a luz me possibilite ver "algo além". Nunca há nada. Respiro e fecho os olhos, pedindo à Deus força para acordar e coragem para sair da cama, sei que tudo vai se repetir e aquele nó na garganta continuará ali, cada vez mais apertado, sufocando-me como uma corda no pescoço.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cheio de manias

Comecei a escrever um texto e logo desisti. Falava sobre como escrever me deixa melhor, sobre como o dia parece sábado e a casa está com cara de limpinha, que eu só sinto vontade de deitar no chão e olhar para cima. Mas desisti.
E rabiscando aqui e ali, eu descobri que falta algo, falta você.

Hoje é o típico dia que a Delaine passa pano na casa e você chegaria todo sujo na sala, ela ia ficar super brava e resmungaria muito, até que você ia pegar o teu tereré para ir sentar em uma cadeira na frente de casa.
A macarronada da mãe ia ficar pronta e você iria para a cozinha repetindo a mesma coisa mil vezes, quando passasse pela sala de jantar, ia querer beijar minhas bochechas, ou mexer no meu cabelo. Eu iria reclamar, encolher-me, como sempre.
Quando você tomasse o primeiro gole de refrigerante, iria fazer aquele barulho de sempre, o "revestreis", a mistura do quente com o frio.

Ontem, fez duas semanas. Agora, nós temos várias fotos tuas espalhadas pela casa, sempre que olho, sinto falta, contudo não digo nada. Nem parece eu, não é, Pai? Eu que sempre fui boca aberta, chorona... Fico quieta.
Não gosto de lembrar de tudo o que aconteceu. Acho que por você trabalhar fora, eu estava habituada a não te ver todo dia e, por isso, é tão mais difícil assimilar tudo o que ocorreu. Parece que você está trabalhando...
Mas hoje, hoje, parece o dia que você volta, que o barulho do caminhão se aproxima. Desde pequena, eu sou acostumada com o barulho do caminhão mudando a marcha, reconheço de longe... Você chegando.
Difícil pensar que hoje vai ser diferente, que hoje o caminhão não fará barulho, que você não tocará o interfone, que você não voltará.
Nós nos lembramos de você e rimos, porque você era engraçado, sempre fazendo piada de tudo. Lembro de você no computador, com música alta e fone ao mesmo tempo. Lembro de você bravo quando, ao invés de te ensinar, eu fazia as coisas pra você. Lembro de você aumentando o volume da tv quando eu, a mãe e a Delaine começávamos a conversar demais.
Eu queria tanto, mas tanto que você estivesse aqui...
Escreveram-me tantos textos bonitos, tanta gente te considerava.
Pai, o Fabio Jr disse e a Delaine repetiu: você é meu herói, o meu bandido.
Não sei do que eu seria capaz para te ver de novo, pra ver o teu sorriso, pra alguém colocar a tua cadeira na porta de casa. Não sei do que seria capaz pra te ter de novo, mas hei de ter... Um dia. Para a eternidade.
Cheio de manias, você é a minha vida. Pena que eu não percebi antes, pena que eu não aprendi com a morte do Vô... Pena que a gente nunca aprende.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Minha Princesa

Lembro-me até hoje como te conheci... Te adicionei no facebook só para olhar tuas fotos, afinal tínhamos um peguete em comum, bobeira de menina. Mas você era diferente, já me chamou no chat me enchendo de elogios. Como tu é linda! Você dizia. E eu ficava cada vez mais sem graça por ter até sentido um pouquinho de raiva de você.
Elogiou meus óculos e, quando vi, já estávamos falando de livros, te indiquei alguns, e você me indicou outros. Conversamos bastante, um pouquinho por dia, todos os dias, ou quase todos. Comecei a sentir um carinho muito grande por você. Já até apelidei: Yaya, a minha princesa!
Quando te conheci, vi como éramos diferentes, você tão quieta e eu pulando feito doida. Contudo não desgostei nenhum pouco de você. Só te amei mais. Amei-te no teu cabelo louro, nos teus olhos verdes, nas tuas bochechas rosadas, na tua pele branquinha. Menina linda.
Dia desses, você me surpreendeu com um texto, saudosa de mim, reclamando por ilhas e montes serem longes. Hoje, eu te proponho que mudemos um pouquinho... Que seu monte vire uma serra e que minha ilha vire litoral. Assim, sem trânsito, nós podemos ficar juntas em questão de minutos (e perto do mar, ainda por cima!). Imagina só! Eu e você.
Tirando o atraso de todas as conversas que não tivemos por desencontros na internet e falta de tempo. Sonhando e falando bobagem. Rindo e sorrindo.
Eu e você, Yaya.
Minha amiga, imagina só! Você que já me conquista de longe, imagina por perto... Imagina só, Yaya.
Imagina só, nós duas perdendo essa cor branquela, conhecendo lugares diferentes, falando com pessoas novas, tendo outras visões de mundo. Juntas. Imagina só, Yaya!
Bom seria se verdade fosse, mas não é. E enquanto ilhas e montes são longes, eu sinto falta e torço por você. Olho tuas fotos e sinto orgulho de ter uma amiga tão linda, tão fofa, tão carismática.
E, mesmo quando você não está aqui, falando de você para os outros, fico feliz em poder repetir: é a Yaya, a minha princesa!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Por que você é assim?"

Dia desses, conversando com um amigo, fui surpreendida por uma pergunta tão simples que nem sabia responder... Ele virou para mim e, sem mais nem menos, perguntou-me por quê eu sou assim. De início, achei a pergunta extremamente agressiva. Como assim "por que você é assim"? Sou assim, porque sou, ué.
Reagi da mesma forma que escrevi e já fui perguntando o sentido da pergunta. Ele me respondeu "por que você é assim? Desse jeito. Por que você faz essas coisas?". Não sei o que me deu, mas a perguntou mudou totalmente para mim, agora ela parecia um elogio. Já fiquei esperando ele continuar me elogiando - "assim, linda, maravilhosa!" - mas isso não aconteceu (Ahhhhh!).
Então eu fiquei pensando. Por que sou assim? E já fui inventando respostas. Ah, sou assim porque sempre quis nadar contra a correnteza, sempre quis pensar fora da caixa, sempre quis criticar, comecei a ler e fui sendo influenciada e blábláblá. Ele riu de mim. E ainda disse que a resposta estava errada.
Errada por quê? A resposta é pessoal, é minha. Não pode estar errada...
Mais uma vez o babaca - opa, Jujuba, como é o apelido dele - me surpreendeu. "Eu queria que você dissesse que você é assim porque você é feliz".
Feliz, feliz, feliz.
Feliz?
Fiquei o resto da noite quieta, perguntando-me se era ou não feliz. Sou?
Sou.
Na maior parte do tempo, sim.
Apesar de todos os "poréns" e as chatices da vida, sim.
Depois desse nó na cabeça, aprendi a resposta certa para a maioria das perguntas do mundo. Faço isso porque me faz feliz. Se me faz feliz, não é errado. Olha aí, um dos maiores clichês do facebook!
Vai ser assim daqui pra frente... Escrevo isso aqui porque me faz feliz.
Sou feliz, não sou? Sou sim.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Mas acabou

Há uma confusão muito grande dentro de mim, não estou acostumada a não saber o que quero, se estou ou não fazendo o certo.
Mas, hoje, eu estou assim. Toda confusa e choramingando em todos os cantos da minha alma. Triste por não te ter mais, e não sabendo se fiz a escolha certa. Só sei que agora não vou voltar atrás, pois não é justo com você - comigo, não sei, não me importo. Eu fico imaginando como você está e sofro, sofro porque te faço sofrer.
As coisas chegam a determinados pontos que nós não somos capazes de adivinhar. Eu queria escrever para tirar toda essa angústia de mim, contudo não sou boa com as palavras como você e nunca vou conseguir expressar tudo o que sinto, até porque nem eu sei.
Queria conseguir amenizar a tua dor, dizer-te o quanto te amo e o quanto você é importante pra mim, entretanto esses sentimentos já não valem nada. Eu sou ridícula. Sou uma fraca. Sou digna de pena.
Não digo que "o problema sou eu", porque isso é desculpa boba. Eu sou a causadora e reconheço não querendo piedade.
E trocando mensagens com você, eu sei que vou sentir saudade. Que já sinto saudade. Que foram tantas coisas boas e ruins que me pego chorando por não poder olhar mais no fundo dos teus olhos. 
"É só um primeiro momento", penso eu. Espero que seja e que amanhã você já esteja de volta, talvez não sendo meu, mas sendo próximo de mim. Como éramos, como sempre fomos. Conhecendo-nos até nos "tudo bens" e nos olhares. Foi uma eternidade para jovens, como você disse.

Você não gosta tanto de Chico, mas eu usaria um pedaço da sua valsinha para nos descrever: "E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais/Que o mundo compreendeu, e o dia amanheceu em paz".

Mas acabou.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A mulher da minha vida

Aqui estou eu. Deitado na cama, um turbilhão de pensamentos, nos meus ouvidos, sirenes, que barulho ensurdecedor!!, minha barriga dói, até parece que acabei de levar um soco. Levei? Não me recordo muito bem das coisas, talvez pela quantidade de álcool que ingeri no último bar. Talvez minha memória tenha feito questão de apagar...
Abro os olhos lentamente. Levei um soco, ou mais. O lençol está cheio de sangue, estou tonto, tento me lembrar. Adormeço.

De repente a porta abre, vejo minha mãe, meu pai, minha irmã. Todos parecem ter saído de um velório agora, que caras são essas? Escuto um milhão de xingamentos, sinto um chacoalhão, mas por que, diabos, esse povo está aqui? Levanto e vou embora.
Na rua, as vidas são alheias a minha, ninguém se importa, nem me olha. Ninguém quer saber o que eu fiz na noite passada, nem se incomoda comigo. Aqui, sou só mais um. Isso me agrada.
Entro em uma padaria, a atendente é gostosa.
- Me vê um café, lindeza.
Ela ignora o elogio e me traz um café. Nem me importo. Bebo de uma vez, jogo uma nota no balcão e saio dali.
Continuo a andar, observo o céu, azul, puta azul lindo, o céu nunca está feio, nunca! Mas tropeço, trombo em algo, caralho! o que é isso?, olho e lá está ela no chão, pobrezinha, linda e indefesa. Acabei de derrubar a mulher da minha vida, talvez. Olhos escuros, cabelos negros e a pele clara, ela me dá um sorriso torto, seu canino direito é tortinho, mas não me importo.
Me desculpe, imploro. Me desculpe. Ergo-a e como forma de desculpa, chamo-a para um café. Venha, eu insisto.
E tudo bem, ela aceita, aqui estamos nós dois conversando sobre tudo. Dá pra acreditar? Ela, com as maçãs vermelhas de vergonha, diz se eu não prefiro uma cerveja a um café... E mais, me indica um bar. Estamos nele agora.
Não sei quantas foram as garrafas, nem quantas risadas demos, só sei que ela está no meu apartamento e, pela primeira vez na vida, eu sinto vergonha da sua sujeira. Ela parece não se incomodar enquanto mexe nos meus discos e solta gritinhos. Não entendo por que uma mulher tão linda veio parar no apartamento de um sujeito sujo como eu, cheirando à cerveja e cigarro.
É a mulher da minha vida.

E aqui estou eu. Deitado na minha cama, um turbilhão de pensamentos, nos meus ouvidos, sirenes, que barulho ensurdecedor!! Acordo.

domingo, 19 de agosto de 2012

Rosa

De repente eu me senti tão feliz e tão leve que eu poderia flutuar, se a vida me permitisse. Senti-me parte do céu, senti-me nas nuvens, ou talvez nas estrelas, voando sem parar, voando em volta do mundo, de olhos fechados, com o cabelo bagunçado.
Com todos os meus livros no coração, com poemas nos olhos e sorrisos nos lábios. A vida cheirando a casa de vó, cheirando a pão assado, pão recheado. O vento cheirando a tempo, a sonho! O coração batendo no ritmo do samba. 
O pôr do sol de toda as cores.


De repente eu me senti tão feliz e tão leve que não há necessidade de palavras, meus olhos me dizem tudo, minha respiração e meus dentes explicam.
De repente o mundo ficou assim, de todas as cores.
No que seria a fase rosa de Van Gogh.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sobre você

Se alguém me perguntasse se eu gosto de você, a resposta seria óbvia, óbvio que sim, mas não sei como, nem por quê, nem que tanto. Gosto de você. Só gosto. E se me perguntassem se te amo, talvez hesitaria em responder, e com um sorriso amarelo no rosto e vergonha de admitir, diria que não sei, contudo se tivesse amado alguém, com certeza teria sido você.
Só me dou conta disso tudo, do quanto gosto de você, quando você me diz algo sem sentido, algo tão espontâneo que eu dou risada, sem saber o que responder. Quando eu vejo você falando com alguém sobre tudo ao mesmo tempo, sempre opinando e se colocando. Quando você me diz teus sonhos, teus projetos, tuas vontades, e eu, te achando incrível como acho, apoio. Apoio sem nem pensar!
Não tenho vontade de mudar nada em você, apesar de todas as críticas, gosto até dos teus defeitos. E, as vezes, até elogio outros, só que é com você que eu quero estar. Tanto que é com você que estou há tanto tempo.
Gosto de quando você desliga a tv e só fica em silêncio, gosto de quando você me chama de preguiçosa, ou quando me chama de "daizinha", ou ainda quando insiste em tentar ver um filme. Gosto do tanto de curiosidades que você esclareceu com o tempo e ensina-me.
Tão ruim querer dizer algo e não encontrar palavras. Sobre você é sempre assim. Escrevendo até consigo exprimir um pouco mais que falando e ainda sim é pouco.
Sobre você é sempre assim.
Acho que é porque palavras não definem tudo isso.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Frustração

Se eu morresse hoje, morreria insatisfeita. Insatisfeita com a vida que eu tive. Sentindo falta das oportunidades que não tiveram tempo de me aparecer, das pessoas que não conheci, das conversas e reflexões que eu não tive.
Vivi todo esse tempo cercada por pessoas medíocres, por pessoas ignorantes, e do pior tipo de ignorância, aquela que não quer aprender. Vivi com gente que não sabe parar e conversar sobre o porquê das coisas. Gente que não reflete, que não se pergunta. Gente conformada.
Ouvi muitos dos sonhos dessas pessoas, sonhos cheios de ostentação, carrão, casona, férias em Paris vestindo chanel e calçando louboutin. Não ouvi ninguém dos que me cercam falar sobre ajudar, sobre se doar, sobre querer só o que precisa. Ninguém me falou sobre preservar a natureza, sobre andar descalço ou ensinar os filhos a ler bons livros.
Querem máquinas, computadores, celulares e insistir nos erros. Querem não ver seus erros, e continuam a julgar o dos outros. Continuam a julgar o que para eles são meus erros, mas que, para mim, são apenas acontecimentos da minha vida.
Ninguém aqui pode me dizer o que é certo, porque ninguém aqui tem embasamento para isso. Ninguém aqui me conhece, ninguém aqui me ouve, ninguém aqui me entende.
Sinto-me frustrada com a vida.
Com essa eterna vida.
Com essa tristeza.
Acham lindo into the wild, mas nunca, em hipótese alguma, abririam mão do conforto da cama. Criticam todas as organizações que visam ajudar a comunidade. Não consigo sentir nada por vocês, nem pena.
E, apesar disso tudo, apesar de eu relatar todas essas minhas insatisfações com a vida, eu não os julgo pessoas horríveis, julgo-os cegos! Cegos!
Abram os olhos...

Enquanto vocês querem tanto, eu quero pouco, pouco material e muito para a minha alma. Quero me libertar. Quero transcender os limites da vida material. Quero o mundo ideal de Platão. Quero ser naturalista como Hemp. Que Deus, que Jah, que Alah, me ajudem! Deem-me sabedoria e paz. Paz para a minha alma. Aquietem meu coração.

domingo, 29 de julho de 2012

Tô pensando!

Sempre usei a escrita para organizar pensamentos, tenho dificuldade nisso, sou muito aleatória, falo de tudo ao mesmo tempo e por isso nunca concluo nada. E hoje eu queria escrever sobre qualquer coisa, só queria escrever, a chateação esteve presente em todos os dias das últimas duas semanas, mas cheguei finalmente no domingo, o primeiro dia de outra semana. Queria deixar todas as mágoas para trás e começar a viver estes sete dias bem, porque, afinal, acabaram-se as férias e começar mal não é legal.
No momento, estou lendo dois livros incríveis. Um sobre um velho que quer escrever uma autobiografia tentando se defender de acusações de um antigo "amigo". Um velho com problemas de memória que volta e meia interrompe a narração para ligar ao filho e perguntar algo como quem são os sete anões.
Estou sentindo saudades, saudades de quem vi sexta-feira, só porque é uma pessoa tão especial que eu poderia ficar olhando para a cara dela o tempo todo! Joe Williams está nos meus fones e eu só posso dizer que amaria se o Rob Fleming de Alta Fidelidade do Nick Hornby fosse real. Ele e seus inúmeros discos e seu jeito tão confuso e espontâneo de ser.
Gosto de pessoas assim: espontâneas. Que riem sem vergonha e que falam sem pensar. São as que mais sofrem, infelizmente.
Minha cabeça anda tão cheia de coisas... Por um momento ela se aquietou hoje, quando eu ouvia aquela banda de reggae que sequer sei o nome tocar na praia. Deve ter sido o conjunto de imagens, a praia, a água, o sol, as árvores, a banda no fundo e o pessoal sentado no chão.
Preciso aumentar o grau do meu óculos e preciso resolver tanta coisa... Minha cabeça está quente. Tô pensando! Tô pensando!

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pobre Billy

Deveria me sentir mal por ser tão grosseira? Por só desejar ficar sozinha com esse copo e o gosto nojento de cigarro na boca? Por não gostar de ninguém? Por estar destinada a viver colecionando mágoas?
Pergunto-me se serei condenada por tantos pensamentos medíocres, por não querer muito, por não querer nada. Por desejar jogar a minha vida pelo ralo de um banheiro entupido, por só acordar e deitar sem fazer algo proveitoso.
Não entendo a ambição que engloba as pessoas, esta eterna vontade de ter mais, de ser melhor que os outros. Não quero. 
Quero deitar no meu velho colchão duro, olhar para o meu velho teto sujo e chorar, chorar as lágrimas que nem tenho. Chorar os meus pensamentos que eu condeno. Chorar por ser incapaz de viver aqui com essa gente.

Estou num bar, frequento o velho bar do Billy faz 10 anos, ele já sabe qual é a minha cerveja favorita e sempre traz uma garrafa quando eu chego, sem dizer nada. Me serve e depois pergunta algo, em seguida acende meu cigarro.
O bar do Billy é todo de madeira, madeira antiga, escura, fedida. O bar do Billy reúne bêbados com vidas perdidas, sem esperança. O bar do Billy já é uma parte de mim, já faz parte do curativo das minhas feridas. Todos aqui sabem da venda de cocaína atrás daquela cortina. Todos aqui sabem que a pequena Sofia, em seus quinze aninhos, se prostitui. Todos aqui sabem que o pobre Billy, pobre de espírito, já está para morrer. Mas ninguém se importa com qualquer uma dessas coisas.
Billy é um ótimo companheiro, fala pouco, tem um olhar vazio, uma pupila que raramente se dilata pra uma mulher. Pobre Billy.

Pobre de mim, se não igual a Billy, sou pior. Não sou pobre de espírito, sou miserável, não tenho valores, não tenho dó de ninguém, não quero saber da vida, que dirá da morte.
Pobre de mim que sou assim, que não vejo a beleza em nada, que não quero nada, que vejo meus dentes amarelarem e meus pulmões escurecerem sem me importar. Pobre Luíza. Pobre de mim.
Sequer consigo morrer, sequer um caminhão me atropela, sequer fico doente. Busco o fim em tudo, contudo esse fim não me quer. Nem a Dona Morte me deseja.

Pobre Billy... Pobre de mim.

terça-feira, 5 de junho de 2012

A morte é mesmo injusta

Se eu tivesse que fazer um relato, seria sobre algo que completa cinco meses amanhã. Meu professor de redação disse que esse tipo de texto deve narrar algo marcante na nossa vida, e isso foi.

Era uma tarde de sexta feira, férias, estava em casa, entediada depois de horas na frente de um monitor de computador. O telefone tocou e minha mãe atendeu, não ouvi a conversa, só escutei a voz da minha progenitora falhar ao chamar pela minha irmã. 
Levantei assustada e fui perguntar o que tinha acontecido, com lágrimas nos olhos, ela só conseguia repetir "o vô, o vô!". Não foi preciso mais do que isso para que eu e a minha irmã compreendêssemos, a morte chegara, cessando a dor do velho, mas aumentando a nossa.
Nunca tinha lidado com a morte, fora a primeira e única vez, lembrando de tudo isso ainda me sinto igual: incapaz de fazer qualquer coisa. Só uma coisa mudou, antigamente, eu tinha esperanças de que fosse uma mentira; hoje, não. Sei que é verdade e isso me dói demais.
Meu pai chegou e ao saber que seu pai tinha morrido se mostrou forte, o abatimento tomava conta de seu rosto, mas não chorou. Manteve a calma e mandou nos arrumarmos.
Tudo parecia uma ilusão até minha mãe telefonar para o meu irmão, os gritos de dor, o choro, o desespero era perceptível por qualquer um que passasse na rua. Então eu percebi.
Foram dezoito horas de viagem para buscar o meu irmão e seguir ao velório. Foram dezoito horas sem dormir, chorando, pensando, me arrependendo.
Achei que não fosse acabar nunca. A morte é tão injusta, se dorme, contudo não se acorda. A morte é eterna e irreversível.
Quando a viagem acabou, encontrei meu avô dentro de um caixão com os olhos fechados, olhos que eram azuis. Encontrei-o magrinho, sem aquela barriga costumeira que sempre teve desde que me lembro dele. Encontrei o coração parado, o sorriso fechado. Não encontrei palavras.
Ainda não sei descrever a minha dor, mas a todo momento eu pedia que ele levantasse dali. Via minha priminha sem entender o que se passava, a caçula da família, revi todos os meus tios, meus primos, meus conhecidos de Euclides.
Foi horrível.
O enterro foi pior, quando o último tijolo foi assentado, entrei no carro e fui embora, ainda com lágrimas nos olhos, sem vontade de viver.
A morte é mesmo injusta.
Ainda hoje, praticamente cinco meses depois, meus olhos se enchem de lágrimas e eu me pergunto por que tudo é assim: um dia se está vivo, no outro já não se está. Queria voltar no tempo, revê-lo mais uma vez, acabar com essa minha dor que cessou a dele. Queria só ver seu sorriso e não mais imaginá-lo.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Ainda o amo

Conheci um cara tão parecido comigo que julguei um desperdício ter vivido 21 anos sem o mesmo.
Vi-o num bar, enquanto eu conversava com o garçom e tentava decidir o meu pedido. Queria pedi-lo. Pedi uísque e em um gole só criei coragem de ir até ele. Fui.
Logo saímos dali, pareciam anos de convivência tamanha era nossa intimidade, nos beijávamos calorosamente, com carinho, sem pudor, sem vergonha. Eram mãos, abraços, mordidas. 
Amamo-nos pela primeira vez em meio a almofadas do sofá, incapazes de chegar ao quarto. Amamo-nos em todos os cômodos, de todos os jeitos, em todas as intensidades. 
Arrependia-me de não ter o encontrado antes, fechava livros no meio de capítulos para pensar nele, chamava-o no frio, agi daquele jeito que sempre condenei. Tornei-me tão dependente... De um jeito que nunca imaginei ser possível.
Tornou-se um melhor amigo e tudo o que acontecia, era para ele que eu queria contar. Nunca tive muitas palavras para descrevê-lo, éramos só nós dois e fim. No nosso tempo, contrariando os outros, com parques de rodeios, livros e sofás. Amando-nos sem fim, cheios de praças e suspiros silenciosos, olhares cheios de palavras e bocas que se encontravam sem dizer nada.
Nem era preciso, éramos só nós dois, ainda me arrependo de não o ter encontrado antes. Ainda o amo em todos os lugares para recuperar o tempo perdido. Ainda o amo em silêncio. Ainda o amo com sorrisos. Ainda o amo... Mesmo que eu já não o tenha.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

"Considerações sobre ela, sem dizer seu nome"

Cabelo longo e bem preto, e um par desses olhos negros que nos fazem simpatizar com a pessoa logo de cara, não por serem doces, e sim por serem duros, severos. Teu sorriso foi desenhado com todo o cuidado do mundo e teus dentes foram perfeitamente encaixados para combinar com ele, mesmo que em algum lugar haja um dentista para dizer que não.
Tua pele é morena, teu corpo e tua mente são de mulher; de menina, só a idade. É toda enjoada quanto a música e mesmo que não leia sempre, sempre tem uma opinião sobre qualquer autor que eu citava. Ama cerveja, cerveja da boa. Cerveja e música e sentar e conversar.
Foi assim que eu me apeguei a você, sentando e conversando. Imaginando. Te amei assim que você se levantou bêbada entre nós - teus novos amigos - e leu um poema. Teu poema favorito. Te odiei em todas as tuas teimosias e teus cuidados excessivos comigo.
Mas teus olhos, teus olhos... esses faziam-me te amar!
Um dia, conversando comigo, comparou-me a uma personagem que agora eu vejo que é você. Nem preciso descrevê-la, você a sabe.
Brigamos. Mas só porque todo relacionamento tem esse tipo de coisa, e, para o meu ódio, separamo-nos. Fui tola, e você foi também. Duas tolas orgulhosas.
Só sei que hoje eu sinto tua falta. Sinto falta de sentar todas as quintas-feira naquele restaurante e beber cerveja, insistindo para o Sandro colocar engenheiros, ou legião, ou qualquer outra música. Sinto falta de ir à praia com você, e de ir à tua casa com o pessoal conversar.
Nossa amizade foi toda baseada nisso: sentar e conversar.
E hoje, mais do que nos outros dias, eu sinto tua falta. Sinto saudades desses nossos momentos, dos teus olhos, de você como um todo. Da tua voz e até das nossas discussões. Queria te trazer de volta.
Te queria aqui: com teu cabelo longo e bem preto, e um par desses olhos negros. Nem teu nome é preciso dizer!

sábado, 7 de abril de 2012

Reflexões de Chuveiro

Magoada, no sentido mais literal da palavra, é assim que eu me sinto diante de toda essa indiferença, dessa falta de carinho.
A minha alegria agora se torna tristeza. O que era rosa se torna azul. Eu sinto falta de uma época que eu idealizei tanto que é capaz de nunca ter existido. Uma lágrima sempre vem ao meu olho quando eu penso sobre isso, contudo é uma lágrima tão orgulhosa que se recusa a escorrer.
É como se eu soubesse de como está a situação, mas me negasse a agir, é como se fosse assim, pois é assim.
Sempre me perguntam de você, antigamente eu tinha a resposta pronta, hoje eu já não sei, e quando você fala comigo, eu já não sei se é motivo de alegria ou não.
Odeio jogar palavras assim, sei que talvez você as leia, sei que talvez você entenda que são para você, mas eu não quero, não quero que você saiba. Essa foi a "Sexta-feira da paixão" mais sem paixão a qual eu fui submetida. 
Porque as coisas são assim, sempre assim... Eu me sinto tão vulnerável. Nem é só por sua causa, é por minha causa. Por eu ser tão assim, tão errada e tão orgulhosa. Por eu não ser capaz de entender, por eu achar que você nunca quer nada comigo. Por eu querer me isolar, fugir dos meus problemas, ir embora assim.
Até parece que eu estou em um banho eterno, um banho cheio de reflexões, enquanto milhares de gotículas de água escorrem pelo meu corpo sem lavar a minha alma. Não encontro solução, só espero. Essa espera eterna.
Queria um dia deitar olhando para cima com você e só então eu saberia se, de fato, gosto ou não de você. Se sei sobreviver a você, ou não. Você não me dá essa oportunidade.
Ao mesmo tempo que quero envolvê-lo com beijos, quero distanciar-me. Porque, embora você me faça bem, você me faz mal. Não sei se você tem noção desse mal, se você o ignora, se você se preocupa. Eu só tenho vontade de desistir as vezes.
Desistir como um suicida que anseia por viver. Bom gostar de você, ruim te querer. Eu não sei lidar com isso, entretanto vivo isso todos os dias. Acordo esperando por você e durmo da mesma forma, sem respostas e sem ações.
Já me dei conta de que não sou prioridade na tua vida e me sinto péssima por te priorizar e por abrir mão de tantas coisas por você.
Aparentemente, tudo isso são só reflexões de chuveiro, de um banho qualquer de um dia ensolarado, e eu vivo assim, fazendo o máximo que posso pra jogar essa tristeza na descarga e sempre notar que ela está entupida.
Vivo assim, esperando...

sábado, 17 de março de 2012

Gosto assim

Descobri quais são as pessoas que eu realmente gosto: são aquelas que eu posso deitar em qualquer lugar - chão, sofá, tapete, colchão - e olhar para o teto, para o céu, para cima, sem dizer palavra alguma, ou só dizer bobagens e nem assim me sentir incomodada. 
Talvez seja pela simplicidade do momento que eu tanto gosto, talvez seja pelo carinho que eu sinto emanando do silêncio, do riso tímido, talvez seja só aquela companhia de pensamentos. Gosto dessa sintonia. Não falar, não sentir-se incomodado. Não julgar.
Gosto de olhar para cima, de imaginar bobagens, de sentir vontade de falar, mas ficar com vergonha, e ao final acabar dizendo e rindo.
No geral, é só isso: gosto de deitar, olhar para cima e não me sentir incomodada. E quem faz isso comigo, imediatamente ganha o bônus do meu carinho, da minha admiração, da minha vontade de estar com.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Ausência

Meu querido,
A falta que você me faz é imensurável, sinto falta de tudo em você. Do teu cadarço verde, do teu tênis branco, do teu cabelo para o lado, do teu sorriso, do teu carinho. Sinto falta da tua animação, da tua eterna alegria, do teu eterno apoio, to teu eterno "ser", um ser tão iluminado, tão grandioso, tão magnífico.
Sinto falta das tuas conversas, dos teus "mas, Dai, eu ainda acho que", amo tua teimosia. A faculdade te tirou de mim, tirou aquela presença física que já era ausente devido a distância, mas te deu a vida, te deu as oportunidades, abriu as tuas portas.
Queria tê-lo comigo, mesmo longe, mesmo que apenas para um "bom dia". Amo-te tanto, necessito-te tanto, quero-te tanto. Você sempre elogiou minhas palavras e hoje eu as dedico a você. Queria um abraço teu, tão apertado quanto você foi capaz de me dar na última vez em que nos vimos, já faz tempo, não é?
Quero adiar a nossa despedida para sempre... Talvez eu já não seja tão importante para você, contudo as lembranças que eu tenho de você me fazem chorar de dor por não tê-lo aqui.
Natan, você devia morar logo ali, na frente da minha casa, assim nós poderíamos ouvir músicas juntos, assim eu poderia sair correndo pra te mostrar um trecho de um livro qualquer, assim eu poderia te chamar e sentar no nada, no vazio, só pra conversar.
Entendo que no momento você está ausente para mim, entendo, mas te peço, por favor, nas férias volte e volte  com o intuito de ficar, ficar eternamente nem que seja por um momento. Já disse que te amo, não é? Não minto quando o repito.
Amo-te e sinto tua falta. Eterna falta.
Volta para perto de mim,
Daiane.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Adúltera

Sinto-me adúltera. Vazia. Fraca. Ridícula. Uma vagabunda qualquer, isenta de sentimentos, de emoções, de caráter. A vergonha de ter sido fraca me persegue em todos os meus passos, sequer posso ir a cozinha sem me lembrar de você, sem me lembrar do que fiz, da tua reação.
Perdoe-me. Ao menos uma vez, ao menos você. Não mereço...
Piso nesses paralelepípedos com meu salto gigante, ouço uma música qualquer e meu pensamento voa longe, não queria que fosse assim. Queria estar na minha cama, culpando-me pelo o que  fiz, queria estar de chinelos e uma roupa qualquer, com a cara inchada, borrada. Lê-se em meus olhos a culpa, a espera de um perdão. Não consigo me perdoar. Não consigo me olhar.
Desesperada, virei todos os espelhos do meu apartamento, escondi-me de mim mesma, anulei-me. Sou capaz de contar em meus dedos o número de horas que dormi esta semana, minhas olheiras aumentam, a culpa também. Aquele velho sofá que suporta meus choros, minhas bebedeiras... Todas as noites. Aquela velha agenda que, ultimamente, só recebe anotações melancólicas, culposas. 
Por um momento, eu penso em quão bom seria um apocalipse, assim, aqui, agora. Um raio na minha cabeça, um prédio desabando em mim, um zumbi comendo meu cérebro. Odeio zumbis, acho-os ridículos, contudo eles não sentem, certo? Gostaria de ser um.
Meu ônibus chegou, o motorista sequer me dá "bom dia", vejo em seus olhos que ele sabe de tudo. Todos sabem. Mudo a música. Inspiro. Mudo de novo. Expiro. Pauso.
Desisto.
Desisto de tudo, desisto da vida.
Desço no primeiro ponto, corro para a primeira praça, desisto.
Abro minha bolsa, procuro um pedaço de papel qualquer e uma caneta, um último recado, um último pedido de perdão, é só isso que eu quero. Com a letra trêmula, com os olhos embaçados pelas lágrimas, com a vida por um fio, eu escrevo. F., perdoe-me, fraca, incapaz, uma vagabunda. Perdoe-me, para que assim, somente assim, eu descanse em paz. Perdoe-me. 
Em momento algum da minha vida, senti-me tão fraca e só quanto agora, sinto-me covarde por optar pela morte a encarar os fatos, penso em tais coisas enquanto direciono-me ao trabalho daquela que confiara em mim, entrego o bilhete à sua secretária, esta manda-me sentar, mas não posso. Um minuto a mais e eu desisto e eu torno a me tornar a adúltera de sempre.
Paro na calçada do prédio e olho a quantidade de carros na rua, todos os motoristas vivendo suas vidas. Inspiro, fecho os olhos, vou, morro.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Hoje

Constantemente me pego pensando sobre o futuro, sobre o presente, pouco sobre o passado. O passado já não é verdade, já não me pertence, mas o meu presente refletirá no futuro e é com o futuro que eu me preocupo. Não conclui muito sobre a vida, sequer cheguei a conclusão de quando é que ela começa, se é com a formação do zigoto, se é com o início da atividade cerebral, se é quando se nasce.
Só tenho duas certezas sobre a minha existência, a primeira é que estou aqui, a segunda é que vou morrer. Nascer e morrer. O intervalo de tempo entre essas duas ações pode ser longo ou não, aproveitado ou não, não aproveitá-lo me incomoda.
Contudo me pego sozinha me perguntando o que seria aproveitá-lo. O que seria, de fato, "viver"? Disseram-me uma vez que eu vivo em função do futuro, e eu vivo, e isso me preocupa, tenho medo de desperdiçar o hoje tão ocupada com uma possível realização daqui alguns anos que acabarei me tornando incapaz de sentir. Tenho medo de perder minha sensibilidade, de perder a minha juventude e com ela meus sonhos. Tenho medo de entrar no mundo adulto e esquecer aquela criança que tanto existe em mim, quanto em você. Vejo tanta coisa ruim no mundo que não posso deixar de me perguntar como ninguém faz quase nada para mudar. Claro, algumas pessoas fazem, algumas poucas, que, comparadas com o nosso número total, pouco significa.
Sei que preciso evoluir espiritualmente e em minhas preces sempre peço humildade e sabedoria, peço que eu me desprenda da matéria cada vez mais, tornando-me assim um ser livre, entretanto vejo que isto se torna cada dia mais difícil.
Sinto como se o meu coração pertencesse ao mundo, mas o mundo não pertencesse ao meu coração. Não queria estar sentada numa droga de uma cadeira giratória com um computador na minha frente, queria estar aprendendo. Perdi a conta de quantas foram as pessoas que me disseram que o conhecimento é a maior riqueza que nós podemos ter, que dinheiro não é nada. Muitas vezes menosprezo o conhecimento científico por conhecer tantas pessoas sábias que nunca sequer pisaram numa escola, mas sei que sem base científica não se vive.
Hoje, hoje, hoje, sem me preocupar com amanhã, eu gostaria de me livrar dessa carcaça que eu tenho em mim, dessa capa, dessa máscara. Espero que com o decorrer do tempo, eu me desprenda da matéria, que eu evolua, que eu deixe de pensar só com o coração, ou só com a razão, que eu seja capaz de aliar ambos e fazer a melhor escolha.
Hoje, eu queria que o mundo pertencesse ao meu coração e que a beleza da vida pertencesse aos meus olhos.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Estrelas e Cigarros

"Mas eu nunca quis ter nada com você!"
Essa é uma coincidência, uma coincidência desconhecida para você. Quando nos conhecemos eu nunca quis nada com você, nunca entendi suas indiretas, nunca fiz questão da sua presença. Não se sinta lisonjeado, meu querido, quando te beijei pela primeira vez, a única coisa que passava pela minha cabeça era o número que você assumiria na minha lista, só. Você não tem noção da quantidade de textos mentais que eu escrevi com o nosso término, não é? Aposto que não. Você não esperava isso de mim, eu não esperava, era cômodo estar ao seu lado e posso até dizer que gostava, mas nunca, nunca quis nada sério com você.
Parece que minha cabeça é tomada pela cena em que você me disse essas palavras, sou incapaz de acreditar nelas. Sou uma menina tão legal, por que é que você me trocou por essa vagabunda que sequer sabe escrever "exceção"? Não quero sua piedade, não quero te ver nunca mais. Da onde você tirou tanta coragem para me olhar nos olhos e dizer que beijou outra? Depois de tanto tempo, de tantas horas perdidas com você!
Coloquei aquela música que você me indicou quando eu nem sabia ao certo quem você era, ela está salva em meus favoritos, escuto ela de novo, e procuro nas minhas divisões onde foi que eu salvei as outras. Penso em ouvir um dos seus covers, mas hesito. Hesito.
Você faz tão pouco caso comigo, trata-me tão mal, ignora-me e eu continuo, eu finjo, finjo, que finjo que não me importo, mas importo-me. Sabe aquela mensagem que você não me mandou? Eu esperei. Aquela ligação que supostamente caiu? Esperei o retorno. E você não o fez.
Pergunto-me quantas vezes você olhou seu celular e me ignorou. E eu aqui, perdida, cada despedida parecia eterna, por isso eu fazia birra, por isso eu não queria, hesitava tanto em falar "adeus". Como você podia me deixar assim? Será que você não tinha noção do mal que me fazia? E agora isso... um final. Depois de tanto tempo: um final.
Ao menos não tenho um status perante a sociedade para mudar, difícil vai ser superar conhecidos me perguntando sobre você. Difícil será não te xingar, cafajeste!  Sinto vontade de sentar numa mesinha de um bar qualquer, de beber, ouvir a voz rouca de um cara qualquer cantando, com uma cerveja barata no copo e um cigarro nojento na boca. Você odiava quando eu fumava, eu odiava fumar, contudo o fazia.
Será que as estrelas sentem o quanto você me machuca? O céu está tão estrelado, tão bonito, tão nosso... E eu aqui, escrevendo palavras incertas, mais um de meus textos mentais, mais nada. E você não lerá, não dessa vez, nós não gozaremos do prazer de ler a literatura do outro, de escrever a literatura do outro enquanto nossos corpos se amam. Será que esse céu que já nos viu deleitarmo-nos em amor é capaz de me compreender?
Tanto faz. Qualquer um o faria, exceto você. Você que não é qualquer um, você que tem um violão e um cabelo bagunçado. Você que usa chinelos nos pés. Achei que me tinha no coração. Trago esse cigarro nojento mais uma vez e só desejo que você se torne fumaça, torne-se nada e suma.
Não seja meu cigarro que deixa marcas nos meus pulmões, seja minha fumaça que com o vento se vai e não, não volta jamais.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Penso

Eu não deveria pensar esse tipo de coisa, mas penso. Penso demais até. Não quero escrever aqui com "todas as palavras" porque ninguém é capaz de entender, ninguém acompanhou meus pensamentos, minha linha de raciocínio, o desenvolvimento de ideias. Ideias ruins.
Parece que eu me abandonei, entreguei-me as palavras achando que elas poderiam me curar, quando não, não, não, as palavras apenas me ferem mais, apenas abrem mais as minhas cicatrizes que eu tentava esconder com pensamentos. Contudo a dor sempre vem.
E ela veio.
Sinto-me só, embora não esteja (não estou?). Acredito que dessa vez nem as palavras podem me ajudar a me enganar, estou fraca, vulnerável. A todo momento, eu penso em procurar velhos amigos, mas nossa amizade acabou. De que valeria? Não sei por que escrevo, uma vez que não me explico, não me permito dizer, finjo.
Fico me indagando quais são as palavras certas para se usar, a minha hora nunca chega, e o "tudo no seu tempo" não me é válido. Será que eu mudei? Ou sempre fui assim?
As respostas nunca chegam, Bob Dylan se enganou quando disse que estas estavam "soprando ao vento", não as minhas, as minhas não estão. Minhas respostas devem estar trancadas em um baú e escondidas em uma ilha desabitada, talvez o meu cérebro não seja forasteiro o suficiente para desbravar todos esses mistérios e encontrá-las.
Talvez, talvez, talvez. Talvez o tempo só tenha que passar, talvez ele seja, realmente, o melhor remédio. Ou talvez seja só tpm, talvez.

domingo, 8 de janeiro de 2012

Zézinho

Senhor José,
Demorei muito pra te escrever, eu sei. Começo te pedindo desculpas por todas as mal criações que eu fiz enquanto você estava comigo. Lembra aquela vez que você me pediu água e eu disse que não era tua escrava? Perdoe-me. Se hoje eu pudesse, levaria-te todo um mar, um mar azul, como teus olhos. Azuis que transmitem toda a paz inexistente no mundo. Você é incrível, Vô.
Queria escrever aqui, nesta carta, um breve memorial, para que assim nós dois possamos trocar aprendizagens pelo o que passamos, juntos ou não. Lembra-se de todas as tuas viagens de caminhão? Das caronas que você dava? Daquela mulher que soltou um pum?? Lembrando até parece engraçado. Uma vez você me disse que queria voltar a trabalhar, que aposentar tinha te deixado assim. Pode até ser, mas você trabalhou enquanto pôde, meu anjo.
Sinto um extremo orgulho da beleza exótica que Deus te deu. Amo teus olhos tais como são, vesgos, contudo azuis. Lindos, como você. Você é o melhor homem do mundo, e mais sortudo. Teve oito lindos filhos e a esposa mais doce do mundo. Tenha certeza que hoje eu sinto muito orgulho de você.
Tenho certeza que você está no céu (tão azul como teus olhos), e daí você pode ver nosso sofrimento, nossa saudade, nossa dor, nosso amor. E é isso, eu te amo, e muito, muito mesmo. Eu te disse que voltaria na última vez que te vi, eu demorei, não é? Perdoe-me, queria ter chego a tempo de te abraçar, de te beijar as bochechas, de te dar meu coração, fígado, rim, pulmão, minha vida.
Escrevi mentalmente um monte de cartas, o senhor recebeu? Eu não entendo, sinceramente, não entendo. Entretanto entendo que o senhor é tão bondoso que Deus quis te levar com ele. Eu entendo Deus! No lugar dele, eu faria o mesmo.
Vou sentir saudades eternas de você e gostaria muito que o senhor me ajudasse, não me deixa, ajude-me nas minhas escolhas, tudo bem? Eu nunca vou esquecer do teu sorriso, do teu jeito de andar, da cadeira que você sentava na varanda, da cadeira da cozinha, da tua voz pedindo pra Vó fazer café, dos teus chinelos, da tua camisa azul, do teu óculos, do teu sorriso-piscada-mostrada de língua. Você se foi em uma hora ruim para mim, qualquer hora que você fosse seria ruim. Sequer sei tua idade (péssima neta, eu sei), mas sei que você viveu pouco, pouco demais! Vou te levar pra sempre, meu amor, minha vida, meu herói.
Você foi aquilo que a Delaine sempre disse que era: um "soldado da paz". Então, por favor, Vô, ai do céu, ajude Deus a espalhar a paz no mundo.
Obrigada por cada sorriso, por cada abraço.
Te amo muito,
Daiane (tua branca).