sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Cosmopolita

Hippies são engraçados, mas hippies são livres. Pergunto-me quão difícil foi para eles se desprenderem de tudo para seguir a estrada. Deixar família, emprego, preconceitos. Muitas vezes, eu digo que tenho a "alma hippie", mas não, não tenho, não suportaria deixar tudo e sair por ai, sem rumo, sem ter para onde voltar.
Por mais que eu quisesse "me libertar", não conseguiria. Fui criada, alimentada, estruturada no capitalismo, não sei não comer carne, não sei não comprar, não sei me humilhar. Fui criada para competir, embora odeie competição.
Admiro hippies, queria mesmo ter uma alma hippie. Ter a humildade de um hippie, gozar dos prazeres da vida como um hippie. Adoraria me encontrar com tal intensidade para ser capaz de viver assim: livre. Quero ver os detalhes como um hippie, vender uma pulseirinha por um pão, queria não me importar com nada, se não com a minha felicidade. Queria sentir a felicidade na própria estrada, como diria Bob Dylan, queria rever o João e tornar-me uma Maria. Queria adquirir não só a alma, mas um coração hippie, cosmopolita, do mundo.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

De você

A cada vez que coloco meu pé na estrada e os olhos na paisagem, minha cabeça é inundada por pensamentos e parágrafos. Desta vez, lembrei-me de você. Uma vez te disse que sentiria falta do teu sorriso, de fato, sinto. Entretanto só me dei conta disso quando o revi, quando senti o calor e o carinho dos seus lábios abertos mostrando os dentes.
Olhar o nada cheio de tudo enquanto o carro acelerava, fez com que eu recordasse de cada conversa nossa, de cada confissão tua, de cada bobeira minha. Menino, você tem palavras demais, demais... Não te cala um minuto, mas eu gosto. Distrai-me.
Teus olhos são gentis, lembro-me deles enquanto namoro com essas palavras, namoro com o meu texto, namoro com a música ao fundo... Sinto saudades.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Reflexões de Rodoviária

Era decepção demais para uma pessoa só. Brigar antes de sair do hotel, chegar na rodoviária e descobrir que seu ônibus vai atrasar 3h. Isso mesmo: três horas. Agora você tem até as 5h da manhã para "curtir" a situação, remoer o ódio, cavar os sentimentos e revivê-los.
Eu poderia sentar e analisar cada detalhe daquele salão enorme cheio de bancos e almas vazias, mas não. Abri minha bolsa e peguei um livro, é exatamente por isso que eu amo as palavras! Como são poderosas e acolhedoras! E como chamam a atenção... Pouco demorou para que você se sentasse ao meu lado, pulou um banco, é claro. Mas sentou-se ali, pegou seu livro e fez o mesmo que eu, deleitou-se com as palavras. A diferença era clara: eu lia por prazer, você lia para a faculdade. Era visível que você é estudante de direito, e ri por dentro ao ver sua blusa GAP e lembrar-me dos incidentes da USP.
Por um momento eu senti vontade de cutucá-lo para conversar, mas não o fiz. E quando você me chamou com um "Moça, você está indo para x?", eu limitei-me a responder "Não, para y". Será que eu deveria ter puxado assunto? Não sei. Só sei que você parecia legal, e não, eu não havia me apaixonado por você, contudo desejava conversar com alguém, e você, isso mesmo, você, parecia ser a pessoa ideal no momento.
Acho que me arrependo por não ter estendido a conversa, acho que poderíamos conversar sobre muitas coisas, principalmente por você cursar algo que eu pretendo cursar no futuro. Agora estou aqui, escrevendo sobre você, que deve ter 20 ou 21 anos, ou talvez até menos, cabelos enrolados, estatura média, chinelos nos pés e livros na mala, e você sequer lerá, eu sequer sei teu nome.
Lembro-me que dei mais atenção a um hippie sujo que a você, dou risada. São esses desencontros da vida que fazem-me perceber que devemos aprender o máximo que podemos. Sugar a sabedoria de todos, perguntar, obrigada, menino. Sei que você não é o João (hippie), mas em teu silêncio, fez-me refletir tanto quanto aquele!

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Meu Pequeno

Querido Coração,
Como você está, afinal? Sorrindo? Chorando? Batendo? Faz um certo tempo que eu só te confundo e não te levo respostas, não é? Desculpe-me.
Lembra daquela tarde ensolarada que você insistiu em me fazer vê-lo e fez minhas pernas bambearem? Lembra-se? Eu me lembro. Lembro-me como se fosse hoje, ah!, Coração, você não vale nada. Não sei porque entrega-me assim de mãos beijadas à qualquer um, fazendo-me sofrer. Não sei.
Quão aflito você está aqui dentro de mim, quão triste? Quão saudoso, quão carente?
Por que eu não consigo controlar-te? Por que ao vê-lo você se torna tão frágil? Não queria tudo isso, juro, pobre Coraçãozinho, juro. Sinto vontade de te arrancar do peito e envolver-te com meus braços e abraços, com meus carinhos. Você os quer. Não quer?
Ecoa aos meus ouvidos seus batimentos... tristes, solitários, vazios. Somos eu e você, meu Pequeno. Eu e você. Vamos proteger-nos, isolar-nos, tornarmo-nos eremitas. Quero o deserto, e quero você, quero estar dentro de você, e não envolvendo-o. Você parece tão distante de mim, tão pequeno dentro de mim.
Sou muito apaixonada por todos esses detalhes, desculpe-me por envolver-te nisso. Mas agora, meu Querido, somos só nós dois, só nós dois, eu e você. Sem pressa, sem motivos, eu e você.
Você e...,
Eu.

domingo, 30 de outubro de 2011

David em 13 linhas

Acho engraçado como te conheci e como você é totalmente doido e diferente de todas as outras pessoas com as quais convivo. Você parece não se importar com nada, mas, ao mesmo tempo, importa-se, não come carne, não bebe, não fuma (ainda bem), não penteia o cabelo também.
Quando te conheci, você parecia um doido todo de preto e com um skate na mão, sentou-se e começou a falar tudo enrolado, parecia que nós nos conhecíamos há muito tempo, você me faz rir, sem esforço algum, e ri também, com sua risada extremamente escandalosa.
Por mais que nos encontremos pouco, eu gosto muito de você, mesmo você sendo um péssimo professor de sinuca, mesmo que eu sequer saiba sua idade, porque eu, sinceramente, não me importo. Importo-me muito mais com as suas histórias, com suas aventuras e suas palavras. Gosto muito mais do seu pseudo-português meio colombiano do que do meu, talvez seja por isso que nos damos tão bem, ainda bem.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Tudo ficaria bem

Olhei para o seu perfil enigmático e fiquei imaginando como você veria toda aquela cena na qual nós dois estávamos inseridos. De longe éramos apenas espectadores, ansiosos por um clímax excitante, vi seu sorriso tímido escondido entre as curvas do seu nariz e queixo.
Será que você via tudo como eu via? Interpretava aquelas bobagens como eu fazia? Ou para você tudo parecia interessante? Você parecia alienar-se de tudo, sem importar-se. Batia sua bola de basquete e sorria, o mundo acabava atrás de você, e tudo o que te importava era a cesta, e ela, aparentemente, importava-se com você, ambos mantinham um belo relacionamento, seus arremessos sempre entravam nela.
De repente, aquilo para mim deixou de ser um jogo de basquete, eu queria analisar seus olhos e como eles se comportavam a cada movimento alheio, éramos eu e seus olhos, seus olhos envolvidos por pensamentos e eu querendo decifrá-los. Queria eu saber localizar-me bem na linha tênue que separam as minhas interpretações dos seus reais pensamentos. Ou talvez não. Seria frustrante saber que você não pensa o que eu acho que pensa, pergunto-me se te julgaria, deveria?
Não. Seus olhos, doces e cuidadosos olhos, incríveis com sua cor tão próxima a de um lápis de cor marrom, me diziam que não. Despreocupados, diziam-me para relaxar. Tudo daria certo. Você, a bola e a cesta. O mundo acabando-se lá atrás, e tudo ficaria bem.

sábado, 8 de outubro de 2011

Ocaso

Eu andava pela praia perguntando-me como iria embora, afinal, estava com míseras moedas no bolso, não tinha carro e era impossível conseguir uma carona ali, onde não ia ninguém. Salvo alguns maconheiros ou bêbados, e eu não me importava com eles.
Possuía duas opções: esperar um ônibus, ou ir a pé, optei pela primeira e fui procurar um lugar para sentar. O céu estava incrivelmente bonito, o ocaso iniciaria-se em poucos instantes, molhei meus pés na água e me sentei, olhando para aquela imensidão azul que me cercava. Eu poderia ficar ali para sempre.
Estiquei meu corpo e deitei-me de modo a poder olhar o pôr do sol, por alguns instantes fechei meus olhos, inspirei e prendi a respiração. Finalmente me sentia livre, e só.
Não sei as outras pessoas, mas comecei a reparar em como eu era, e, caramba, eu era estranha mesmo! Nunca soube escolher entre as coisas, talvez por isso não cheguei a lugar algum, eu pensava, pensava e nunca concluía, por isso era assim, errada. Era como aqueles versos de Chico, em que um anjo decretou que "eu estava predestinado a ser errado assim", eu concordava.
Nesse instante, olhando o céu, sozinha, cercada por água, eu parecia não saber quem eu era, por uns quinze segundos eu me perguntei, então a resposta veio: eu não era ninguém. Eu era só mais uma que ansiava pelas palavras, que se alimentava delas, entretanto não as possuía. Eu as buscava, mas não as conquistava.
Um sorriso se desenhou em meus lábios, sem motivos, sentia-me estranha, e feliz, estranhamente feliz. Desejei ser hippie e viajar de carona, conhecer o íntimo de desconhecidos, explorar suas dores e vivê-las, esquecendo-me das minhas. Por um instante pensei em abandonar tudo, e, quando dei-me conta, o ocaso já se acabara. Fora tão lindo quanto eu era estranha, ambos na mesma intensidade, todas aquelas cores se misturaram e se foram. Imaginei que ele seria um sinal, minha vida estava passando e minhas cores se enfraqueciam a cada fim de tarde, decidira-me: iria atrás dos meus sonhos. Viajar pela costa oeste, por que não? Isolar-me em um ashram na Índia, por que não?
Levantei-me decidida a viver, o ônibus chegara, e, pela primeira vez, entrei nele com prazer, sorri, dei boa tarde, me aventurei. Fora a primeira de muita vezes que o fiz.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Com ou sem o seu perdão

Eu lhe machuco, e ela me machuca. Talvez seja por nos amarmos tanto. Talvez seja por sermos tão iguais. Talvez seja essa enorme convivência. Talvez seja pelo estresse do dia-a-dia. Mas nos machucamos. Nos odiamos e esperando o perdão da outra sem pedi-lo. Pedimos com os olhos, entretanto nosso orgulho não nos permite verbalizá-lo.
Destruímo-nos, eu sei. Não conseguimos nos colocar no lugar da outra, não entendemos uma a outra. Mas nos amamos.
Meu modo de fugir da dor de suas palavras é escrevendo, o seu é ignorando-me. Partilho do sofrimento dos seus olhos, mas sinto-me incapaz de digerir suas palavras, são dolorosas, fortes, afiadas como facas. Machucam-me. Não sei se meu papel no mundo é te amar e te perdoar, mas queria que o seu assim fosse comigo, pois sou pequena, muito pequena, erro muito e sempre, diariamente, machuco-lhe, eu sei. Queria que não o fizesse, mas faço-o. Perdoe-me.
Você nunca lerá essas palavras, você não as apoia, você apenas apoia minhas dissertações, apenas lhe agrada minha vida futura. Você não consegue enxergar que meu coração é cosmopolita, você não vê que quero mais que isso... Não vê que quero libertar-me.
Por querer você feliz, abro mão disso tudo, depois de errar, abaixo minha cabeça, sem pedir perdão, sou tola. Mas imploro-lhe em meu silêncio que tenha compaixão da minha consciência e de meus erros. De nada adianta eu insistir nessas palavras cheias de sentimentos a mim, e vazias a você. Deixo disso agora, e volto-me para a gramática, aquela que amanhã irá me testar, com ou sem o seu perdão.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Devoravam

- Beatriz, venha até aqui! - Disse-me ele enquanto seus olhos devoravam os meus.
Devoravam-me, mas de uma forma boa, e eu gostava. Levantei-me e sem questionar, o segui. Sentamo-nos embaixo de uma árvore, eu sabia o que estava prestar a acontecer, ele também. Não estava em meus planos evitar.
Ambos olhávamos para baixo, não estávamos preparados para encarar a espera do outro, mas sem que pudéssemos nos dar conta, passamos a nos olhar, olhos nos olhos, até que a respiração se encontrou. Não foi preciso dizer nada, o momento, tudo, falava por si só. Era como se, de uma vez por todas, o universo resolvê-se me ajudar, era como se todos os meus sentimentos pudessem ser descritos apenas com o olhar: o dele.
Suas mãos encontram as minhas e sua boca também, devoramo-nos, como seus olhos anteriormente haviam feito comigo.
Agora eu parecia uma telespectadora, era como se eu pudesse me transportar para aquela cena e a visualizar sob diversos ângulos, de diversas formas, evitando que ela caia no esquecimento, eu a revivia, a reformulada, a imaginava, até que me dei conta de que criara uma mentira, um monstro, um fantasma particular.
Você nunca voltou a me chamar e eu fazia o favor de ignorá-lo, era aquela coisa de levantar a cabeça ao passar por você, como se isso representasse um sinal de superioridade, tola que sou, só aumentava a dor, a vontade de você, enquanto você... ah, você tirava proveito disso e provocava-me. Já havia me superado e fazia questão de exibir isso.
O tempo passou e quando eu pensei esquecê-lo, o mesmo reapareceu:
- Ana, venha até aqui! - Seus olhos a devoravam.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Novamente

Senhor Dono Do Meu Coração,
Escrevo-lhe, e, desta vez, enviarei, porque não suporto mais! É muito doloroso para mim insistir em algo que muito provavelmente não dará certo, cansei de poréns e de interrogações. Você nunca me dá certeza, seus olhos me enganam e me prendem, você sabe. Ah, como sabe...
Se não soubesse, não o faria, não me prenderia, não me envolveria, não sorriria com os olhos e o canto da boca a cada vez que nossos olhares se encontram. Já disse e repito, você é como os outros! Todos isótopos do mesmo carbono. Tão ridículo que faz-me compará-lo a química, tão sem sal que uma reação entre ácido e base jamais te formaria.
O que mais me incomoda é que eu sei de tudo isso, entretanto ignoro. É como se você tivesse mais valor, sabe? Como se não fizesse diferença tudo isso, porque é você. Porque mesmo que você não as diga, eu gosto de imaginar palavras saindo da sua boca. Porque por mais que você me faça sofrer, eu gosto de imaginar-me feliz, com você.
Sou submissa, envergonho-me, sempre condenei esse tipo de atitude, mas parece que por você vale a pena, sei que não, mas parece.
Esta carta, primeira que enviarei, mas incontável entre as que escrevi, é um ultimato, você sabe que quero, enfim, uma resposta, um sim, um não. Cansei do talvez. Mas sabe também que talvez eu prefira que me ignore, que me esqueça e permita-me esquecê-lo, chega desse ata-desata. Como já antes te disse, não pensa que tudo isso é por não te amar, talvez seja por amor demais, ou uma mera paixão desenfreada.
Ignore-me em meus exageros, continue fazendo-me sorrir, e novamente...
Com todos os amores do mundo,
P.

domingo, 11 de setembro de 2011

Tanto... faz

Eu, em mim, sou pequena e tola. Vejo meus erros e os ignoro, é vontade demais, não queria te dizer, mas sinto vontade de você. Imagino-me com você e com seus acordes, com seus risos tímidos e sua simplicidade. Magrelo e estranho, mas por que?
Eu aqui, você lá. Eu criando coisas, você ignorando.
Fiz-me pequena propositalmente, deve ser desejo de crescer com você, e apesar das circunstâncias que indicam um final trágico, acredito. Fiz-me tola propositalmente, pois desejo que você retire minha ingenuidade, sou fraca, mas porque quero. Quero que você me fortaleça. E assim eu me fiz, cheia de defeitos e poréns, para você concertar e colocar portantos.
Aquele velho vento que remexe as folhas no outono se fora, entretanto continuo imobilizada, olhando o vazio que você deixou, a ferida aberta, a voz que não ouvi, só os olhos que me destruíram, você se foi, mas seus restos permaneceram. Incrivelmente, os meus também... Por não te ter, continuo assim, pequena e tola, sem força alguma de mudar, sem você, tanto faz. Tanto faz. Tanto... faz.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Como de Costume

Entre. Disse sem resistência alguma e olhos baixos. Sente-se, sinta-se à vontade! Como de costume, serviu biscoitos e leite. Ligou a tv em um canal qualquer e observou, mexia-se suavemente, como de costume. Falava baixo e pouco, como de costume, mas causava tristeza, como de costume. Autora de nostalgia e lágrimas.
Observava enquanto o vento entrava pela janela a esquerda, este bagunçava-lhe os pensamentos, uma voz ao fundo cantava em um programa qualquer. Finalmente sua visitante olhava-a nos olhos, não eram precisos palavras, a dor consumia-a, seu nome era simples, era popular, e triste, estava sempre presente, mas ninguém gostava dela. Era a Saudade, como de costume.

domingo, 21 de agosto de 2011

Riu

Pensava enquanto limpava, limpava enquanto pensava. Lourdes era o seu nome, era nova, mas as marcas de cansaço lhe davam uma idade superior. Não tivera grandes oportunidades quando nova, hoje sua vida resumia-se a fazer faxinas para bancar-se. Apesar disso, sonhava. E como sonhava.
Lourdes não sonhava em morar nas mansões de luxo que limpava, mas sonhava em sustentar-se com as palavras, ninguém sabia, mas escondida no seu quarto pós todo o dia árduo que tivera, ela escrevia. Escrevia com e por amor. Fora nos livros que encontrara uma razão para viver, um por que, uma vida. Lourdes escrevia com a letra deitada e engraçada, toda desajeitada, não entendia muito de gramática, mas a literatura da vida lhe ensinou a se expressar. Escrevia porque vivia, e, inevitavelmente, vivia porque escrevia.
Identificava-se com todas as suas histórias, ou mesmo com as pequenas frases que escrevia durante o dia, era uma letra e um sorriso, uma letra e um sorriso, e assim seu dia desenhava-se melhor.
Lourdes não queria muito, apenas queria ser feliz, dentro do que acreditava ser felicidade. Não se relacionava muito com homens, tinha medo de magoar-se, e sua auto estima era muito baixa, tão baixa que sentia-se incapaz de olhar-se no espelho. Mas mesmo assim, tentava arrumar-se o máximo que podia.
Não costumava sair nos seus dias de folga, mas em um deles resolveu esticar as pernas na praça, sempre com um caderninho de anotações ao lado, sentou-se, fechou os olhos e inspirou, então apreciou, por muito tempo fez isso: apreciou.
Via longe crianças brincando, crianças que visualmente eram menores que seus dedos, riu, riu sozinha. Lembrou-se do pai e do cheiro de feijão na cozinha da mãe. Riu. Lembrou-se das irmãs mais velhas e das bonecas riscadas. Riu. Lembrou-se do primeiro namorado. Riu. Viu um homem alto, magrelo, desajeito, e, pela primeira vez, imaginou-se casada e riu.
Pegou o caderno e, rindo, escreveu uma frase que há algum tempo lera: Amor para viver e flores para ter pelo o que viver. Agora a entendia.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Só e somente

Olho para essa foto cheia de significados e tento decifrá-la, olho para o seu sorriso, êxtase, vontade de "quero mais", tudo ao redor se cala, o seu sorriso, de fato, diz tudo. São tantas metáforas que podem facilmente ser criadas a partir dele, tantas figuras, sonhos, letras, desenhos.
Nunca ninguém pensou existir um sorriso tão cheio de significados quanto esse, é muito "eu", muito sentimento, muita paixão, muita vontade de entregar-se, tudo em um sorriso. São seus cabelos bagunçados, os olhos pequenos, e o sorriso largo, extremamente largo.
É esse sorriso que me confunde, que me ilude, que me tira do lugar. Mas eu sei que não é para mim, e dói-me imaginar sua dona. É esse sorriso que nesse exato instante eu olho a procura de inspiração, é só e somente ele. É só e somente ele que me inspira, que me dá o ar, que me tira o folego, tão lindo, tão intenso, não tão meu, tão seu.
Sua personalidade é denotada nele, intenso, como você. Cheio de carinhos, como você. Gentil, como você. Explicação carnal dos versos de Vinícius de Moraes, de Camões, de Chico, de Caetano. São tantos clichês em você, tanta vontade, tantos quilômetros, tantas mentiras. Tantas palavras grudadas em meus lábios, como seu nome. Tantos sentimentos falsos, como todos esses. Tantas ilusões, como você.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

E continuou

Andava cabisbaixo, como de costume. Sorria pouco, e nesse pouco, sempre chorava por dentro. O passado lhe remoía, nunca lhe abandonava, somente esse. Era um dia chuvoso, típico de São Paulo, caminhava por ai dentro do seu terno caro, com sua maleta na mão, pensava no que diria naquela reunião. Então, sem mais nem menos, o passado o atacou novamente, todos os seus fantasmas lhe assustavam, estava prestes a ter um surto ali mesmo, no meio da Avenida Paulista, sabia disso, e resolveu se esconder.
Correu até um bar, sentou na ultima mesa, aquela no fundo, escondido, onde nem os atendentes o visualizavam, queria estar só, queria acabar com tudo isso, queria viver, mas não podia, não conseguia. Nenhum de seus psiquiatras conseguia ajudá-lo, e ele sentia-se incapaz de ajudar-se.
Suas mãos suavam e tremiam enquanto ele tentava segurar o choro, enquanto tentava acalmar ao menos a face, já que a alma não se acalmaria.
Levantou e saiu correndo, no meio da rua avistou um prédio em construção, para lá foi, chorando como criança, tristonho, procurando salvação. Subiu até o último andar escondido, sentia o cheiro de cimento, ouvia os pedreiros gritando e cantando felizes, invejava-os.
Carlos era um advogado de sucesso, seu nome era conhecido por todos os lados, mas ninguém o conhecia, o seu íntimo era um mistério. Agora ele se via em uma situação que jamais previra, sentia inveja de pedreiros. Carlos nunca abaixou a guarda, sempre se colocara em um pedestal grego, do qual nunca quis sair. Agora estava ali, sozinho, abandonado por todos e por si mesmo.
Quando chegou ao último andar, abandonou sua maleta, olhou para os lados, sentia-se perto do céu, queria sentir a paz que o céu transmitia, perguntou-se como faria para estar junto dele, queria velejar pelas nuvens, queria sorrir, olhou as pessoas lá de cima e sorriu, pensou nas vidas medíocres das mulheres que passavam bem vestidas abaixo dele. Correu para o outro extremo do prédio, viu crianças cheirando, sentiu pena.
Olhou para si e viu uma mesma criança, entendeu uma velha música que sempre lhe atormentava. Parece cocaína, mas é só tristeza. Repetiu para si mesmo. Sabia que de fato era. Sentou-se e chorou. Então ouviu aquele velho barulho que o irritava, reconheceu-o facilmente, era o celular. Ignorou uma vez, lembrou-se da reunião que marcara. Em sua mente a vontade de ignorar foi menor do que todos os problemas que apareceram, tinha de trabalhar, precisava de dinheiro para sustentar o luxo da família, acabara de comprar uma casa nova e precisava pagá-la. O celular novamente tocou, Carlos limpou os olhos com os dedos, e atendeu, ouviu apenas um "você está atrasado!", sem questionar, pegou a maleta, desceu do prédio, pegou um táxi e sumiu, foi em direção a reunião, em direção ao seu inferno pessoal. E continuou, longe do céu, longe da paz.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

9 linhas

Tão bom te ter aqui em meus braços enquanto escrevo isso mentalmente. Esperei tanto por esse momento e agora o tenho, te tenho. Tão bom abraçar-te enquanto você me faz carinho. Tão bom sentir seu cheiro, puxar-te para mais perto de mim. Tão bom poder sorrir o seu sorriso, desenhar seus traços com o dedo. Tão bom você, tão bom eu, tão bom nós.
Tão aconchegante seu colo, tão gostosa nossa trilha sonora, seus olhos, meus olhos. Tão especial esse momento, tão sincero meus gestos, tão delicado seu sussurro, tão incompleta sou sem você.
Tão... Tão... Tão eu, tão você, tão nós. 

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ao menos você, perdoe-me

Meu querido diário,
Confundo-me ao escrever aqui, principalmente hoje, confundo-me em tudo. Queria tentar explicar-lhe, ou só explicar-me, mas tudo aconteceu tão rápido que me sinto incapaz de fazê-lo. Sei que estou errada, sei que traição não merece perdão, porém quero-o.
Talvez tenha sido a mágica daquela cidade, talvez tenha sido o fato de ver alguém que eu sempre desejei avistar, talvez tenha sido minha fraqueza. Talvez tenha sido a capacidade da minha memória deletar as coisas que me incomodam. Lembro-me de tudo, hoje me sinto uma espectadora, uma terceira, e torturo-me. Fraca, incapaz de resistir aos sorrisos dele, aos seus lábios.
Quero perdão, mas sei que não mereço-o. Não culpo João por me abandonar, por me expor ao ridículo, por gritar xingamentos em minha direção. Eu sou a culpada. Dói-me lembrar do rosto dele ao ouvir tudo o que eu tinha de dizer, posso vê-lo andando nas ruas de cabeça baixa enquanto se dá conta de que eu o trai, de que eu o fiz de tolo. Mas, agora, me dou conta de que troquei-o por algumas noites e me odeio.
João, que sempre fora tão meu, tão para mim, que nunca mediu esforços para desenhar sorrisos em meus lábios, João, ah, João...
Diário, você que sempre me escuta, você que sempre me acompanha, você que vê meus erros, mas não pode ajudar-me, aconselhe-me em seu silêncio. Ajude-me, escute-me. E, por favor, ao menos você, perdoe-me.
A chuva bate na minha janela, minha cama está vazia, sou só eu e você, a música antiga na vitrola me deprime, mas não tenho coragem de mudá-la, quero sofrer o que João sofreu, quero colocar-me em seu lugar. Quero ligar-lhe, implorar-lhe perdão, dizer que o amo, que agora eu sei: eu o amo. Entretanto não posso fazê-lo, errei, não mereço perdão, não mereço sua voz, nem seus toques, não mereço sua melodia da gaita acariciando meus sonhos. Não mereço sua companhia na cama, não mereço seus cafunés. Não o mereço.
Imagino-o num bar agora, enchendo a cara querendo esquecer-me, enquanto aqui estou eu, forçando-me a lembrar-me, odeio-me por perder aqueles olhos grandes e castanhos nos meus, aqueles cabelos bagunçados, aquelas mãos macias, aquele sorriso aconchegante. Odeio-me por tudo, então, querido diário, ao menos você, perdoe-me, pois não posso perdoar-me.
Com todas as  culpas do mundo,
Marina.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Sobre Homens Bonitos E Cerveja Gelada

Avenida paulista, 25ºC, num desses bares de esquina com mesa de madeira. Duas amigas falavam sem parar, ambas na casa dos 20, vestiam roupa leves.
Sentei-me na mesa ao lado, sozinho com uma cerveja gelada, enquanto ouvia as palavras que elas proferiam com entusiasmo, uma narrava como seu último encontro fora um fracasso e dizia que de nada valia os homens serem bonitos se não sabiam falar de nada além de sexo e futebol. A segunda escutava atentamente, questionando detalhes aqui e ali, enquanto ridicularizava o sujeito e ambas riam.
Luíza, a primeira, dizia que procurava alguém com que pudesse conversar sobre música, sobre literatura, ou mesmo que entendesse seus problemas na faculdade, não alguém que só desejava prazer a todo instante.
Rita concordava e acrescentava que seu último encontro fora um sucesso, o estudante de medicina que havia conhecido em uma festa era "magnífico", deixando a amiga se mordendo de ciúmes. "Ele tem uma Mercedes" repetia a todo momento.


A algumas mesas dali, escutei três garotas estéricas, usavam sutiã de alça de silicone e camisetas tomara-que-caia.
"Ele não tem pegada!" gritou a primeira, senti pena do menino do qual elas falavam, pois todas riam sem importar-se com quem estava por perto. "Conheci ele num baile e a gente foi lá atrás, era bonito, mas era brocha!" disse Thayane arrancando risos das amigas.
Não pude conter meu riso, sou homem e sempre imaginei esse tipo de conversa entre as mulheres, mas um pânico me tomou conta quando pensei se as mesmas poderiam já ter falado de mim. Resolvi escutar mais um pouco antes de sair do bar.
Lívia e Carolina narraram histórias parecidas sobre elas e disseram que o que procurava, diferente das primeiras, era prazer. Não importava como. Era tudo para uma noite, não havia exigência, desde que ele não fosse brocha.


Foi então que, tentando entender as mulheres, eu conclui que antes de querer chegar em alguma, eu tenho que saber qual ela é. Todas querem homem, porém homens diferentes, e cabe a mim ser todos eles. Ou então escolher a mulher que quero e adaptar-me a ela. Mulher não é um bicho de sete cabeças, só ocultam grande parte de tudo, e, por acaso, alguns de nós tem a (in)felicidade de descobrir.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Ao nada, ao tudo

Abri a garrafa de cerveja, acendi o cigarro, peguei um papel e cá estou eu, com nenhuma ou poucas palavras. A lua me observa e as estrelas ao seu redor guiam meus pensamentos ao infinito, ao nada, ao tudo. Lembro-me de cada detalhe seu e suspiro, suspiro. Não me resta mais nada a fazer, não é mesmo? Você nunca fora meu, não há motivos para ciúmes, muito menos direito para isso.
As palavras são cuspidas do meu pensamento para as minhas mãos e então passam ao papel, que você nunca lerá, sequer saberá da existência. Seus toques eu não sentirei mais, nem suas palavras ao pé do ouvido, seu violão não será mais trilha sonora dos meus sonhos. Mas eu não me importo.
Não me importo porque sei que você não se importa, guardo as lembranças para poder sorrir nostálgica e depois lamentar-me, como agora. Gosto dessa sensação, horrível sensação, mas gosto. Faz com que eu me sinta vazia e faz-me imaginá-lo aqui. Já disse que seu sorriso é lindo? Pois digo-te agora.
Sua voz sempre me acalmando, seus lábios sobre os meus fazendo-me desejar silêncio todo o tempo, seus toques, suas mãos, sua respiração na minha...
Como eu sou capaz de viver sem você? Olhando-me agora sob essa fumaça azul do meu cigarro, eu rio de mim mesma, sou sozinha, onde está você?
A brisa bate no meu rosto lembrando-me que você está em todos os lugares, cada parte de mim te possui, cada sorriso, cada palavra, cada uma dessas letras, você as fez. São suas. Eu sou sua, mas você não me tem.  Sou sua por inteiro, pronta, esperando para doar-me, mas você não deseja receber-me.
A lua sorri para mim, e eu, desesperada, sorrio de volta, imaginando-o fazer a mesma coisa, talvez ela nos ligue, talvez ela nos seja comum, talvez ela nos pertença.
Olho-a enquanto as estrelas ao seu redor guiam meus pensamentos ao infinito, ao nada, ao tudo.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Tudo o que me interessa

Como de costume cliquei no link do seu blog. Li seus textos, saciei-me. Parecia que a cada palavra você me pertencia mais, mas, ao mesmo tempo, parecia que você estava cada vez mais longe, inalcançável, do outro lado do mundo. A unica coisa que nos unia eram as palavras, e eu gostava.
Olhava sua foto de perfil e sorria, olhos que direcionavam-se aos meus, rosto que eu desejava tatear e redesenhar com os dedos. Sorriso de quem me faria rir tomando café, de quem me contaria histórias, de quem vive com um livro entre os braços, de quem tem um mundo inteiro na cabeça.
Sabia tudo sobre você, sem que você soubesse quem eu era. Sonhava com você e cada livro aleatório te trazia até mim. Perdia-me entre as palavras e, quando percebia, estava olhando para o nada imaginando-me com você. Dormia sempre com um livro, para que eu pudesse tê-lo aqui. Encontro-te em todas as tardes com todas as palavras doces de um autor qualquer. Nada importa, somente as palavas, pois essas me trazem você. E você é tudo o que me interessa.
Cansada de tudo, cá estou eu novamente, olhando para o nada, imaginando-te, querendo sussurrar-lhe a música que escuto, contar-lhe o final do livro que hoje acabei, abraçar-te e não soltar-te por um longo tempo. Mas aqui é um local que não te pertence, assim como eu. Infelizmente.
Não vejo caso de amor que mais se encaixe ao que Platão descreveu como o nosso, é somente contemplação, você, do outro lado do mundo, nasceu para completar esse sentimento grandioso que veio comigo. Você que não pode ser meu, pois o mundo é injusto. Pois não tenho coragem de atravessar esse oceano que nos separa.
Eu que sempre odiei romances melosos, estou aqui desejando um, porque é com você, e você é tudo o que me interessa.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Não te culpo

Olá, (meu?) caro,
Escrevo esta carta que provavelmente não enviarei, estou abalada psicologicamente, e você, que sempre fora a minha base, não está aqui.  Vejo-te em todos os lugares, por mais que você não saiba, eu te acompanho, te sigo, porque necessito da sua presença.
Necessito olhar-te, mesmo que de longe. Seu sorriso me acalma, mesmo que não me pertença.
Lembro-me do dia em que te conheci, mas preferia esquecê-lo, quem sabe assim apagaria sua presença sempre ausente em mim. Não quero levar seus elogios a sério, e engano-me pensando que não os levo, meu inconsciente carrega-os comigo como se insistisse em fazer-me sofrer. Considere-o um aliado seu.
As vezes pergunto-me por que o destino o colocara aqui, não sei se quero saber a resposta. Você foi como todos os outros, iludiu-me, com tão pouco faz-me tão mal. Nunca está presente, mas sua ausência me corrói, e sua rara presença me destrói. Com poucas palavras dirigidas à outro alguém, você consegue acabar com o meu dia, mas não te culpo.
Culpo-me, mas não te culpo.
Afinal, fora eu quem te procurara. Eu quem puxei conversa como quem não queria nada, porém já programando minhas reais intenções. Eu quem desejava-o em silêncio, e quando consegui-te, não fiz nada para prendê-lo a mim.
Essas palavras não fazem-te sentido, muito menos diferença. São só vestígios de uma lembrança que forço-me a não esquecer, são só motivos para torturar-me ao olhar o céu. Não são nada. Não para você. Não te culpo.
A música ecoa em meus ouvidos enquanto busco palavras para descrever essa falta de sentimento que me atinge. Você se foi e levou-me consigo. Sabe, eu não sou a mesma. As pessoas aparentemente preferem meu novo eu, mas eu não, eu prefiro o meu eu antigo, aquele que você fazia sorrir. Hoje você apenas causa-me tristeza. Eu não te culpo.
Depois de você, tudo o que me ocorreu foram paixões de uma noite, facilmente esquecidas após algumas horas. Paixões essas que apareceram-me com o intuito de curar minha carência, causada por você. Mas, meu caro, eu não te culpo.
Quem sou eu para culpar-lhe? Você que por tanto tempo me fizera bem. Você que sempre fez-me sorrir. Você que segurou minha mão, abraçou-me, ofereceu-me um sorriso sincero. Inevitável fazer-me sofrer agora, alguém em algum lugar já dissera que "todo sol que aquece muito, faz chover muito também" e eu me esqueci desse detalhe.
Agora, por mais que eu me sentisse no direito de te querer, não o farei. Não mais. Quero que sejas feliz, sem mim, para que assim eu também possa ser. Segue o seu caminho, que eu seguirei o meu, só não pensa que tais decisões me ocorreram por não te amar.
Para sempre,
P.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Talvez

Paixão não correspondida é algo tão incrivelmente ruim, não é? Mas quem tem culpa?
Talvez a pessoa que lhe causa paixão. Infeliz que nos causa ânsias, que nos coloca em "saias justas" mentais ao imaginar coisas, que nos faz sorrir, que nos faz chorar.
Talvez a culpa seja nossa, afinal, quem pensamos que somos para desejar alguém? Ninguém é de ninguém, somos tolos mesmo!
Talvez seja de ambos por se aproximarem tanto a esse ponto. Talvez a culpa seja do destino por nos fazer conhecer pessoas incríveis e não nos fazer possuí-las. Talvez seja das músicas melosas que nos tornam carentes,  desejando alguém para dedicar versos. Talvez seja dos contos de fada que nos ditam tantos finais felizes. Ou mesmo das novelas que sempre mostram tudo bem no final.
Talvez seja da Lua que é linda o suficiente para nos fazer suspirar. Ou do pôr do sol que só nos faz desejar alguém do lado e Chico Buarque ao fundo. Talvez sejam das horas, dos dias, das semanas. Talvez seja dessa eterna busca por algo que não possuímos. Talvez seja a procura pela definição de "amor". Talvez seja dessa mania de ter esperanças e sempre achar que encontramos a pessoa certa. Talvez.
Talvez sejam dos detalhes. Ou talvez não seja de nada.
Talvez a paixão nem exista, talvez seja coisa da nossa cabeça. Em meio à tantas pessoas é inevitável evitar um milhão de definições, de sentidos, de causas, mas talvez estejamos todas erradas. 

domingo, 17 de julho de 2011

A Flor

Vícios. Péssimos. Péssimos vícios. Por que eu fora me viciar em você? Culpa sua, claro. Oferece-se para mim, dá-me todo o seu amor e carinho, vicia-me, e retira-me aquilo que me fazia bem. Sangue frio, coisa de traficante, de fato você é. Lembro-me da primeira vez que provei-te. Estranha sensação boa, recheada por culpa ao final, lembro-me da segundo, a culpa fora diminuída, após algumas doses essa era nula, foi então que eu notei que não poderia mais viver sem você.
Passo horas procurando formas de me comunicar com você, que sempre evita-me. Sei que evita-me, apesar de preferir acreditar que não. Sei de todas as suas desculpas, mas, tola que sou, prefiro acreditar que sejam puras verdades. Passo horas antes de dormir remoendo-me na cama, pensando no que fiz de errado, mesmo sabendo que nada.
Você faz parte de um daqueles vícios da minha rotina que não fariam falta alguma. E eu sou aquele viciado sem dinheiro suficiente pra suprir seu vício, logo passarei a roubar, mesmo sabendo que a unica coisa que desejo roubar é você.
O pior é que eu já sabia da sua fama, já vira muitas outras na situação que agora me encontro. Vejo todas elas tentando deixar-te no passado, e agora é minha vez. Tola que sou, devia ter evitado isso. Odiar conselhos fez-me assim.
Hoje quero que esse vício torne-se uma flor, para que murche-se, e acabe-se, e, então, eu possa tornar-me livre novamente.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Por um momento

Relutando abriu os olhos, o sol invadira o quarto completamente, deixando os vestígios da madrugada a mostra. Ana sentou-se na cama e pôs-se a pensar, sua cabeça fora presenteada por um turbilhão de pensamentos que se misturavam sem que ela pudesse amenizá-los. Arrastando-se saiu da cama e dirigiu-se ao pequeno banheiro de azulejos azuis, olhou-se no espelho sem dar-se conta da hora. Lavou o rosto na esperança de limpar a ressaca, buscando sua dignidade, escovou os dente. Foi para a cozinha.
Pegou o velho bule, colocou água para ferver e ficou sentada olhando-o, observando a água evaporar. Lembrou-se de toda a sua infância e riu ao lembrar das coisas que considerara problemas na adolescência, terminou seu chá, tomou-o, pegou um calçado e saiu sem rumo.
Os velhos fones sempre pendurados no ouvido, fazendo-a ignorar toda a cidade, andou sem rumo por horas, observando as pessoas e como cada uma tinha uma vida própria, problemas próprios, histórias próprias, sentiu-se tentada a parar uma delas e perguntar-lhe o que fazer. Detestava conversar sobre si com velhos amigos, sabia que esses sempre lembrariam-se do que ela dissesse e não queria isso, gostava de conversar com pessoas novas, essas, de fora, seriam mais capacitadas a ajudá-la.
Como em um ato de desespero, sentou-se ao lado de um rapaz, sabia que esse era pouco mais velho que ela e sentia um desejo incontrolável de questioná-lo sobre a vida. Notou seus olhos examinando-a e não temeu, abriu o seu sorriso mais fracassado e perguntou-lhe seu nome. Era Renato. O rapaz de olhos escuros e cabelos bagunçados chamava-se Renato. Ana sorria por dentro ao ouvir seu pensamento pronunciar tal nome.
Como quem não quer nada, Ana questionou-lhe sobre o amor, Renato discorreu sobre o porque não acreditava e pegou-se contando suas desilusões amorosas, Ana sorria. Sentindo a necessidade de dar-lhe apoio contara sobre suas recordações mais tristes, aquelas que ela havia guardado em um caixa empoeirada no fundo do seu coração.
Renato olhava-a de forma curiosa e sentia vontade de beijá-la, havia algo naquela desconhecida que lhe atraia, talvez o cabelo ruivo, talvez os olhos tristonhos, talvez a pele sedosa. Ana sentia-se igualmente atraída. Sem por que, sem razão, ambos tocaram-se, e, quando deram-se conta, estavam num desses motéis de beira de estrada absorvendo um a essência do outro, sem questionar-se nada, pois ali, por um momento, nada mais importava.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Por não te amar

Por não te amar, eu escrevi cartas xingando-te. Corri na chuva aos prantos, joguei fora fotos.
Por não te amar, eu esqueci-me do passado. Temi o futuro.
Por não te amar, eu peguei-me confusa. Com medo.
Por não te amar, eu rasguei planos. Destruí corações.
Por não te amar, eu gritei em silêncio. Cortei-me sem dor.
Por não te amar, eu entrei numa roda punk. Quebrei braços.
Por não te amar, eu fugi de mim mesma. Causei-me ânsias.
Por não te amar, eu embriaguei-me. Lembrei-me de esquecer-te.
Por não te amar, acabei amando-o. Com todas as forças e todas as saudades, com todo o ódio e todo o paradoxo do meu ser.
Por não te amar.

terça-feira, 12 de julho de 2011

O "Eu Te Amo"

Estava passeando por ai e me deparei com uma questão "quem inventou a frase 'eu te amo'?", percebi que nunca tinha parado para pensar nisso e me dei conta de que somos incapazes de respondê-la.
Qual teria sido a reação da primeira pessoa que ouviu isso? E como o seu autor a explicou? Como espalhou-se pelo mundo? Seria fácil imaginar que a musa inspiradora fora uma Megan Fox, mas, dada a idade desconhecida de tal expressão, eu prefiro imaginar que fora uma camponesa simples, dessas que a gente vê em filmes do século IV, época em que o feudalismo reinava no império romano. Ruiva e cheia de sardinhas, de uma família pobre. Prefiro imaginar que a frase tenha sido proferida num desses bares, numa cena que parece ter saído do livro "Cyrano de Bergerac", prefiro pensar que o seu autor era da nobreza, só para se ter a ideia de um romance proibido.
Eu gosto de imaginar que, no dia seguinte, essa camponesa ficou sonhando acordada, imaginando mil coisas, criando mil cenas e pensando nos futuros filhos. Gosto de imaginar uma possível fuga dos dois para quem sabe viverem felizes.
E, então, eu volto para o século XXI e vejo a desvalorização de tal frase, todo o seu poder, seu encanto fora jogado fora, perdido com o tempo. Provas de amor são presentes caros e não mais gestos simples. O "eu te amo" is the new "bom dia", e as pessoas trocam de "amor da minha vida" por semana.
As músicas não expressão mais paixão, os jovens não escrevem mais poemas, sequer utilizam nossa famosa metáfora, e é a partir de reflexões como essa que eu sinto falta de algo que não vivi. Imagino Camões todo charmoso recitando sonetos, ou mesmo Chico escrevendo-os. Ainda mais próximo de mim, escuto Caetano sussurrando no meu ouvido.
E eu desejo, nem que seja por respeito ao seu autor, que nós aprendamos a falar "eu te amo" apenas nas horas certas e para as pessoas certas. Almejo pela volta de todo esse romantismo, só para fazer a vida mais bonita.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sem sentimentos

Minha vida está tão boa, mas me sinto vazia. Durmo tarde, acordo tarde, leio, como e fico na internet, faço tudo o que gosto sem muito esforço. Meus amigos são ótimos, minha família também, mas é como se faltasse algo. Não sei definir o que é ao certo, porém sei que é sentimento.
Há tempos me sinto fria, todo o sentimentalismo fora arrancado de mim há cerca de um ano, desde então eu enterrei toda a minha paixão e acabo com todo o sentimento de carinho a cada vez que acho que esse possa acabar comigo.
Evito criar laços afetivos, evito me apegar, no entanto cansei, me sinto só, sinto a necessidade de dedicar músicas, trechos, poemas, fotos a alguém, e não tenho ninguém a quem fazê-lo. Ontem a madrugada foi dura, regada à nostalgia, nem mpb fui capaz de ouvir, uma madrugada triste sem trilha sonora, apenas vários pensamentos vagos, nada concreto.
Era só mais uma madrugada fria como todas as outras, mas dessa eu cansei. Em toda a minha contradição vejo-me querendo sentimentos e negando-os ao mesmo tempo. Vejo-me triste por tal situação, porém extremamente feliz e satisfeita comigo mesma. Vejo-me em um daqueles momentos contraditórios que sou incapaz de descrever.
Sei que, como fiz inúmeras outra vezes, vou clicar em "publicar postagem" e ignorar tudo o que escrevi. A vida torna-se mais fácil caso não se importe, mas torna-se sem graça, sem sal, sem sentimentos.

sábado, 9 de julho de 2011

Somente

Mais uma vez seus olhos me prendiam, e, tentando fugir deles, era acorrentada por seu sorriso, lindo, impecável. Seu cabelo bagunçado, seu nariz, sua pele. Tudo em você encaixava-se perfeitamente, dentre todos os motivos que fizeram-me apaixonar-me por você perdidamente, seu rosto era o primeiro e o mais forte.
Sua expressão sempre de aconchego, de amor, de quem pede carícias. Sua boca que sempre diz-me palavras doces e gentis que fazem carinho aos meus ouvidos. Seu olhos sempre amáveis, tranquilos. Suas bochechas sempre afáveis, delicadas, pedindo-me mordidas.
Você, em todos os seus defeitos e qualidades, faz-se perfeito para mim. Talvez seja a outra parte da minha idêa, segundo Platão. Ou talvez seja só destino, talvez seja passageiro, talvez não. Mas em tudo quero-te comigo. Sem "por que" e nem "para que", sem motivo algum, só pelo fato de ter-te comigo, somente.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Me diz, cadê você aqui?

Depois de muitas tentativas você se foi, sem que eu pudesse me despedir. Colocou-me de cama, lamentando-me, odiando-me por cada palavra rude que eu proferi em sua direção. Fez com meu olhos se enchessem de lágrimas e que eu quisesse correr até aquele ônibus e agarrá-los com unhas e dentes.
Irmãos são eternos, mas a ideia de ter longe de mim me assusta. Você que sempre acordou feliz, que sempre cantou suas músicas engraçadas, que ia colocar comida no prato dançando. Você, menino do sorriso bonito, portador de todos os defeitos do mundo, humilde, simpático, carinhoso. Você que só me deu a oportunidade expressar o meu amor em palavras uma vez, se foi.
Sempre desejei a eternização de momentos felizes, porém esse com certeza não é. Quero-te de volta, meu irmão, meu querido. Aqui, agora, comigo, e aí sim, para sempre.
Teu quarto, teu cheiro, tuas coisas, tua voz... É difícil imaginar-me sem você.  Foi-se levando consigo grande parte de mim, levando meu sorriso do dia, e esquecendo meu adeus, eu, que tanto te enchi, que tanto gritei contigo, que tanto te bati, hoje choro. Choro porque não estará comigo amanhã. Choro porque não vou ao banco com você. Choro porque não vou discutir a cada vez que você pede para olhar o e-mail.
A verdade é que eu nunca esperei por esse momento. A verdade é que eu achava que você estaria eternamente do meu lado.
A verdade é que a casa está vazia sem você, e o meu coração também.