terça-feira, 27 de setembro de 2011

Devoravam

- Beatriz, venha até aqui! - Disse-me ele enquanto seus olhos devoravam os meus.
Devoravam-me, mas de uma forma boa, e eu gostava. Levantei-me e sem questionar, o segui. Sentamo-nos embaixo de uma árvore, eu sabia o que estava prestar a acontecer, ele também. Não estava em meus planos evitar.
Ambos olhávamos para baixo, não estávamos preparados para encarar a espera do outro, mas sem que pudéssemos nos dar conta, passamos a nos olhar, olhos nos olhos, até que a respiração se encontrou. Não foi preciso dizer nada, o momento, tudo, falava por si só. Era como se, de uma vez por todas, o universo resolvê-se me ajudar, era como se todos os meus sentimentos pudessem ser descritos apenas com o olhar: o dele.
Suas mãos encontram as minhas e sua boca também, devoramo-nos, como seus olhos anteriormente haviam feito comigo.
Agora eu parecia uma telespectadora, era como se eu pudesse me transportar para aquela cena e a visualizar sob diversos ângulos, de diversas formas, evitando que ela caia no esquecimento, eu a revivia, a reformulada, a imaginava, até que me dei conta de que criara uma mentira, um monstro, um fantasma particular.
Você nunca voltou a me chamar e eu fazia o favor de ignorá-lo, era aquela coisa de levantar a cabeça ao passar por você, como se isso representasse um sinal de superioridade, tola que sou, só aumentava a dor, a vontade de você, enquanto você... ah, você tirava proveito disso e provocava-me. Já havia me superado e fazia questão de exibir isso.
O tempo passou e quando eu pensei esquecê-lo, o mesmo reapareceu:
- Ana, venha até aqui! - Seus olhos a devoravam.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Novamente

Senhor Dono Do Meu Coração,
Escrevo-lhe, e, desta vez, enviarei, porque não suporto mais! É muito doloroso para mim insistir em algo que muito provavelmente não dará certo, cansei de poréns e de interrogações. Você nunca me dá certeza, seus olhos me enganam e me prendem, você sabe. Ah, como sabe...
Se não soubesse, não o faria, não me prenderia, não me envolveria, não sorriria com os olhos e o canto da boca a cada vez que nossos olhares se encontram. Já disse e repito, você é como os outros! Todos isótopos do mesmo carbono. Tão ridículo que faz-me compará-lo a química, tão sem sal que uma reação entre ácido e base jamais te formaria.
O que mais me incomoda é que eu sei de tudo isso, entretanto ignoro. É como se você tivesse mais valor, sabe? Como se não fizesse diferença tudo isso, porque é você. Porque mesmo que você não as diga, eu gosto de imaginar palavras saindo da sua boca. Porque por mais que você me faça sofrer, eu gosto de imaginar-me feliz, com você.
Sou submissa, envergonho-me, sempre condenei esse tipo de atitude, mas parece que por você vale a pena, sei que não, mas parece.
Esta carta, primeira que enviarei, mas incontável entre as que escrevi, é um ultimato, você sabe que quero, enfim, uma resposta, um sim, um não. Cansei do talvez. Mas sabe também que talvez eu prefira que me ignore, que me esqueça e permita-me esquecê-lo, chega desse ata-desata. Como já antes te disse, não pensa que tudo isso é por não te amar, talvez seja por amor demais, ou uma mera paixão desenfreada.
Ignore-me em meus exageros, continue fazendo-me sorrir, e novamente...
Com todos os amores do mundo,
P.

domingo, 11 de setembro de 2011

Tanto... faz

Eu, em mim, sou pequena e tola. Vejo meus erros e os ignoro, é vontade demais, não queria te dizer, mas sinto vontade de você. Imagino-me com você e com seus acordes, com seus risos tímidos e sua simplicidade. Magrelo e estranho, mas por que?
Eu aqui, você lá. Eu criando coisas, você ignorando.
Fiz-me pequena propositalmente, deve ser desejo de crescer com você, e apesar das circunstâncias que indicam um final trágico, acredito. Fiz-me tola propositalmente, pois desejo que você retire minha ingenuidade, sou fraca, mas porque quero. Quero que você me fortaleça. E assim eu me fiz, cheia de defeitos e poréns, para você concertar e colocar portantos.
Aquele velho vento que remexe as folhas no outono se fora, entretanto continuo imobilizada, olhando o vazio que você deixou, a ferida aberta, a voz que não ouvi, só os olhos que me destruíram, você se foi, mas seus restos permaneceram. Incrivelmente, os meus também... Por não te ter, continuo assim, pequena e tola, sem força alguma de mudar, sem você, tanto faz. Tanto faz. Tanto... faz.