sábado, 17 de novembro de 2012

O que me mantinha firme nessa angustiante luta, que é acordar todos os dias e enfrentar um bando de idiotas, era a certeza de que em pouco tempo estaria sozinha, vivendo minhas próprias tristezas e estressando-me apenas comigo. Agora, sem essa certeza, pego-me trancada no quarto, sem coragem para chorar, segurando com um nó na garganta toda a chateação que eu não consigo libertar, desejando poder me refugiar em um consultório psiquiátrico com uma receita de tarja preta que promete me proteger da minha própria loucura.
As dores de cabeça cada vez mais constantes fazem-me sentir vontade de arrancar os próprios pulsos, enquanto, mentalmente, vejo sangue escorrendo para todo lado e a vida indo embora como grãos de areia na palma de minha mão. Não tenho mais aquele abraço apertado me esperando no sofá quando piso em casa, nem mesmo tenho o sofá.
Não tenho segurança alguma e ando recorrendo a dor física como distração da psicológica. Não sei o que sou, o que quero, o que fazer. Parece que estou em um quarto escuro, sem luz, sem barulho, com o pensamento na velocidade da luz.
E, todas as noites, acordo de um pesadelo, abraço meu edredom e alivio-me ao saber que acabou e que a realidade, por mais dura que seja, por alguns instantes não pode me atingir, porque estou sozinha, no meu canto, quentinha e protegida por um monte de tecido.
Viro para o outro lado da cama e aperto um botão qualquer do celular para que ele acenda e a luz me possibilite ver "algo além". Nunca há nada. Respiro e fecho os olhos, pedindo à Deus força para acordar e coragem para sair da cama, sei que tudo vai se repetir e aquele nó na garganta continuará ali, cada vez mais apertado, sufocando-me como uma corda no pescoço.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cheio de manias

Comecei a escrever um texto e logo desisti. Falava sobre como escrever me deixa melhor, sobre como o dia parece sábado e a casa está com cara de limpinha, que eu só sinto vontade de deitar no chão e olhar para cima. Mas desisti.
E rabiscando aqui e ali, eu descobri que falta algo, falta você.

Hoje é o típico dia que a Delaine passa pano na casa e você chegaria todo sujo na sala, ela ia ficar super brava e resmungaria muito, até que você ia pegar o teu tereré para ir sentar em uma cadeira na frente de casa.
A macarronada da mãe ia ficar pronta e você iria para a cozinha repetindo a mesma coisa mil vezes, quando passasse pela sala de jantar, ia querer beijar minhas bochechas, ou mexer no meu cabelo. Eu iria reclamar, encolher-me, como sempre.
Quando você tomasse o primeiro gole de refrigerante, iria fazer aquele barulho de sempre, o "revestreis", a mistura do quente com o frio.

Ontem, fez duas semanas. Agora, nós temos várias fotos tuas espalhadas pela casa, sempre que olho, sinto falta, contudo não digo nada. Nem parece eu, não é, Pai? Eu que sempre fui boca aberta, chorona... Fico quieta.
Não gosto de lembrar de tudo o que aconteceu. Acho que por você trabalhar fora, eu estava habituada a não te ver todo dia e, por isso, é tão mais difícil assimilar tudo o que ocorreu. Parece que você está trabalhando...
Mas hoje, hoje, parece o dia que você volta, que o barulho do caminhão se aproxima. Desde pequena, eu sou acostumada com o barulho do caminhão mudando a marcha, reconheço de longe... Você chegando.
Difícil pensar que hoje vai ser diferente, que hoje o caminhão não fará barulho, que você não tocará o interfone, que você não voltará.
Nós nos lembramos de você e rimos, porque você era engraçado, sempre fazendo piada de tudo. Lembro de você no computador, com música alta e fone ao mesmo tempo. Lembro de você bravo quando, ao invés de te ensinar, eu fazia as coisas pra você. Lembro de você aumentando o volume da tv quando eu, a mãe e a Delaine começávamos a conversar demais.
Eu queria tanto, mas tanto que você estivesse aqui...
Escreveram-me tantos textos bonitos, tanta gente te considerava.
Pai, o Fabio Jr disse e a Delaine repetiu: você é meu herói, o meu bandido.
Não sei do que eu seria capaz para te ver de novo, pra ver o teu sorriso, pra alguém colocar a tua cadeira na porta de casa. Não sei do que seria capaz pra te ter de novo, mas hei de ter... Um dia. Para a eternidade.
Cheio de manias, você é a minha vida. Pena que eu não percebi antes, pena que eu não aprendi com a morte do Vô... Pena que a gente nunca aprende.