sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cheio de manias

Comecei a escrever um texto e logo desisti. Falava sobre como escrever me deixa melhor, sobre como o dia parece sábado e a casa está com cara de limpinha, que eu só sinto vontade de deitar no chão e olhar para cima. Mas desisti.
E rabiscando aqui e ali, eu descobri que falta algo, falta você.

Hoje é o típico dia que a Delaine passa pano na casa e você chegaria todo sujo na sala, ela ia ficar super brava e resmungaria muito, até que você ia pegar o teu tereré para ir sentar em uma cadeira na frente de casa.
A macarronada da mãe ia ficar pronta e você iria para a cozinha repetindo a mesma coisa mil vezes, quando passasse pela sala de jantar, ia querer beijar minhas bochechas, ou mexer no meu cabelo. Eu iria reclamar, encolher-me, como sempre.
Quando você tomasse o primeiro gole de refrigerante, iria fazer aquele barulho de sempre, o "revestreis", a mistura do quente com o frio.

Ontem, fez duas semanas. Agora, nós temos várias fotos tuas espalhadas pela casa, sempre que olho, sinto falta, contudo não digo nada. Nem parece eu, não é, Pai? Eu que sempre fui boca aberta, chorona... Fico quieta.
Não gosto de lembrar de tudo o que aconteceu. Acho que por você trabalhar fora, eu estava habituada a não te ver todo dia e, por isso, é tão mais difícil assimilar tudo o que ocorreu. Parece que você está trabalhando...
Mas hoje, hoje, parece o dia que você volta, que o barulho do caminhão se aproxima. Desde pequena, eu sou acostumada com o barulho do caminhão mudando a marcha, reconheço de longe... Você chegando.
Difícil pensar que hoje vai ser diferente, que hoje o caminhão não fará barulho, que você não tocará o interfone, que você não voltará.
Nós nos lembramos de você e rimos, porque você era engraçado, sempre fazendo piada de tudo. Lembro de você no computador, com música alta e fone ao mesmo tempo. Lembro de você bravo quando, ao invés de te ensinar, eu fazia as coisas pra você. Lembro de você aumentando o volume da tv quando eu, a mãe e a Delaine começávamos a conversar demais.
Eu queria tanto, mas tanto que você estivesse aqui...
Escreveram-me tantos textos bonitos, tanta gente te considerava.
Pai, o Fabio Jr disse e a Delaine repetiu: você é meu herói, o meu bandido.
Não sei do que eu seria capaz para te ver de novo, pra ver o teu sorriso, pra alguém colocar a tua cadeira na porta de casa. Não sei do que seria capaz pra te ter de novo, mas hei de ter... Um dia. Para a eternidade.
Cheio de manias, você é a minha vida. Pena que eu não percebi antes, pena que eu não aprendi com a morte do Vô... Pena que a gente nunca aprende.

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