quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pobre Billy

Deveria me sentir mal por ser tão grosseira? Por só desejar ficar sozinha com esse copo e o gosto nojento de cigarro na boca? Por não gostar de ninguém? Por estar destinada a viver colecionando mágoas?
Pergunto-me se serei condenada por tantos pensamentos medíocres, por não querer muito, por não querer nada. Por desejar jogar a minha vida pelo ralo de um banheiro entupido, por só acordar e deitar sem fazer algo proveitoso.
Não entendo a ambição que engloba as pessoas, esta eterna vontade de ter mais, de ser melhor que os outros. Não quero. 
Quero deitar no meu velho colchão duro, olhar para o meu velho teto sujo e chorar, chorar as lágrimas que nem tenho. Chorar os meus pensamentos que eu condeno. Chorar por ser incapaz de viver aqui com essa gente.

Estou num bar, frequento o velho bar do Billy faz 10 anos, ele já sabe qual é a minha cerveja favorita e sempre traz uma garrafa quando eu chego, sem dizer nada. Me serve e depois pergunta algo, em seguida acende meu cigarro.
O bar do Billy é todo de madeira, madeira antiga, escura, fedida. O bar do Billy reúne bêbados com vidas perdidas, sem esperança. O bar do Billy já é uma parte de mim, já faz parte do curativo das minhas feridas. Todos aqui sabem da venda de cocaína atrás daquela cortina. Todos aqui sabem que a pequena Sofia, em seus quinze aninhos, se prostitui. Todos aqui sabem que o pobre Billy, pobre de espírito, já está para morrer. Mas ninguém se importa com qualquer uma dessas coisas.
Billy é um ótimo companheiro, fala pouco, tem um olhar vazio, uma pupila que raramente se dilata pra uma mulher. Pobre Billy.

Pobre de mim, se não igual a Billy, sou pior. Não sou pobre de espírito, sou miserável, não tenho valores, não tenho dó de ninguém, não quero saber da vida, que dirá da morte.
Pobre de mim que sou assim, que não vejo a beleza em nada, que não quero nada, que vejo meus dentes amarelarem e meus pulmões escurecerem sem me importar. Pobre Luíza. Pobre de mim.
Sequer consigo morrer, sequer um caminhão me atropela, sequer fico doente. Busco o fim em tudo, contudo esse fim não me quer. Nem a Dona Morte me deseja.

Pobre Billy... Pobre de mim.

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