terça-feira, 5 de junho de 2012

A morte é mesmo injusta

Se eu tivesse que fazer um relato, seria sobre algo que completa cinco meses amanhã. Meu professor de redação disse que esse tipo de texto deve narrar algo marcante na nossa vida, e isso foi.

Era uma tarde de sexta feira, férias, estava em casa, entediada depois de horas na frente de um monitor de computador. O telefone tocou e minha mãe atendeu, não ouvi a conversa, só escutei a voz da minha progenitora falhar ao chamar pela minha irmã. 
Levantei assustada e fui perguntar o que tinha acontecido, com lágrimas nos olhos, ela só conseguia repetir "o vô, o vô!". Não foi preciso mais do que isso para que eu e a minha irmã compreendêssemos, a morte chegara, cessando a dor do velho, mas aumentando a nossa.
Nunca tinha lidado com a morte, fora a primeira e única vez, lembrando de tudo isso ainda me sinto igual: incapaz de fazer qualquer coisa. Só uma coisa mudou, antigamente, eu tinha esperanças de que fosse uma mentira; hoje, não. Sei que é verdade e isso me dói demais.
Meu pai chegou e ao saber que seu pai tinha morrido se mostrou forte, o abatimento tomava conta de seu rosto, mas não chorou. Manteve a calma e mandou nos arrumarmos.
Tudo parecia uma ilusão até minha mãe telefonar para o meu irmão, os gritos de dor, o choro, o desespero era perceptível por qualquer um que passasse na rua. Então eu percebi.
Foram dezoito horas de viagem para buscar o meu irmão e seguir ao velório. Foram dezoito horas sem dormir, chorando, pensando, me arrependendo.
Achei que não fosse acabar nunca. A morte é tão injusta, se dorme, contudo não se acorda. A morte é eterna e irreversível.
Quando a viagem acabou, encontrei meu avô dentro de um caixão com os olhos fechados, olhos que eram azuis. Encontrei-o magrinho, sem aquela barriga costumeira que sempre teve desde que me lembro dele. Encontrei o coração parado, o sorriso fechado. Não encontrei palavras.
Ainda não sei descrever a minha dor, mas a todo momento eu pedia que ele levantasse dali. Via minha priminha sem entender o que se passava, a caçula da família, revi todos os meus tios, meus primos, meus conhecidos de Euclides.
Foi horrível.
O enterro foi pior, quando o último tijolo foi assentado, entrei no carro e fui embora, ainda com lágrimas nos olhos, sem vontade de viver.
A morte é mesmo injusta.
Ainda hoje, praticamente cinco meses depois, meus olhos se enchem de lágrimas e eu me pergunto por que tudo é assim: um dia se está vivo, no outro já não se está. Queria voltar no tempo, revê-lo mais uma vez, acabar com essa minha dor que cessou a dele. Queria só ver seu sorriso e não mais imaginá-lo.

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