sábado, 8 de outubro de 2011

Ocaso

Eu andava pela praia perguntando-me como iria embora, afinal, estava com míseras moedas no bolso, não tinha carro e era impossível conseguir uma carona ali, onde não ia ninguém. Salvo alguns maconheiros ou bêbados, e eu não me importava com eles.
Possuía duas opções: esperar um ônibus, ou ir a pé, optei pela primeira e fui procurar um lugar para sentar. O céu estava incrivelmente bonito, o ocaso iniciaria-se em poucos instantes, molhei meus pés na água e me sentei, olhando para aquela imensidão azul que me cercava. Eu poderia ficar ali para sempre.
Estiquei meu corpo e deitei-me de modo a poder olhar o pôr do sol, por alguns instantes fechei meus olhos, inspirei e prendi a respiração. Finalmente me sentia livre, e só.
Não sei as outras pessoas, mas comecei a reparar em como eu era, e, caramba, eu era estranha mesmo! Nunca soube escolher entre as coisas, talvez por isso não cheguei a lugar algum, eu pensava, pensava e nunca concluía, por isso era assim, errada. Era como aqueles versos de Chico, em que um anjo decretou que "eu estava predestinado a ser errado assim", eu concordava.
Nesse instante, olhando o céu, sozinha, cercada por água, eu parecia não saber quem eu era, por uns quinze segundos eu me perguntei, então a resposta veio: eu não era ninguém. Eu era só mais uma que ansiava pelas palavras, que se alimentava delas, entretanto não as possuía. Eu as buscava, mas não as conquistava.
Um sorriso se desenhou em meus lábios, sem motivos, sentia-me estranha, e feliz, estranhamente feliz. Desejei ser hippie e viajar de carona, conhecer o íntimo de desconhecidos, explorar suas dores e vivê-las, esquecendo-me das minhas. Por um instante pensei em abandonar tudo, e, quando dei-me conta, o ocaso já se acabara. Fora tão lindo quanto eu era estranha, ambos na mesma intensidade, todas aquelas cores se misturaram e se foram. Imaginei que ele seria um sinal, minha vida estava passando e minhas cores se enfraqueciam a cada fim de tarde, decidira-me: iria atrás dos meus sonhos. Viajar pela costa oeste, por que não? Isolar-me em um ashram na Índia, por que não?
Levantei-me decidida a viver, o ônibus chegara, e, pela primeira vez, entrei nele com prazer, sorri, dei boa tarde, me aventurei. Fora a primeira de muita vezes que o fiz.

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