sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ao menos você, perdoe-me

Meu querido diário,
Confundo-me ao escrever aqui, principalmente hoje, confundo-me em tudo. Queria tentar explicar-lhe, ou só explicar-me, mas tudo aconteceu tão rápido que me sinto incapaz de fazê-lo. Sei que estou errada, sei que traição não merece perdão, porém quero-o.
Talvez tenha sido a mágica daquela cidade, talvez tenha sido o fato de ver alguém que eu sempre desejei avistar, talvez tenha sido minha fraqueza. Talvez tenha sido a capacidade da minha memória deletar as coisas que me incomodam. Lembro-me de tudo, hoje me sinto uma espectadora, uma terceira, e torturo-me. Fraca, incapaz de resistir aos sorrisos dele, aos seus lábios.
Quero perdão, mas sei que não mereço-o. Não culpo João por me abandonar, por me expor ao ridículo, por gritar xingamentos em minha direção. Eu sou a culpada. Dói-me lembrar do rosto dele ao ouvir tudo o que eu tinha de dizer, posso vê-lo andando nas ruas de cabeça baixa enquanto se dá conta de que eu o trai, de que eu o fiz de tolo. Mas, agora, me dou conta de que troquei-o por algumas noites e me odeio.
João, que sempre fora tão meu, tão para mim, que nunca mediu esforços para desenhar sorrisos em meus lábios, João, ah, João...
Diário, você que sempre me escuta, você que sempre me acompanha, você que vê meus erros, mas não pode ajudar-me, aconselhe-me em seu silêncio. Ajude-me, escute-me. E, por favor, ao menos você, perdoe-me.
A chuva bate na minha janela, minha cama está vazia, sou só eu e você, a música antiga na vitrola me deprime, mas não tenho coragem de mudá-la, quero sofrer o que João sofreu, quero colocar-me em seu lugar. Quero ligar-lhe, implorar-lhe perdão, dizer que o amo, que agora eu sei: eu o amo. Entretanto não posso fazê-lo, errei, não mereço perdão, não mereço sua voz, nem seus toques, não mereço sua melodia da gaita acariciando meus sonhos. Não mereço sua companhia na cama, não mereço seus cafunés. Não o mereço.
Imagino-o num bar agora, enchendo a cara querendo esquecer-me, enquanto aqui estou eu, forçando-me a lembrar-me, odeio-me por perder aqueles olhos grandes e castanhos nos meus, aqueles cabelos bagunçados, aquelas mãos macias, aquele sorriso aconchegante. Odeio-me por tudo, então, querido diário, ao menos você, perdoe-me, pois não posso perdoar-me.
Com todas as  culpas do mundo,
Marina.

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